segunda-feira, maio 11, 2009

A dor multiplicada

Muito pior do que receber a notícia, é ter que dá-la. Seja ela qual for; se for ruim, é mil vezes melhor receber do que dar. Ainda que você seja pego de surpresa com ela, é ainda mais difícil ter que digeri-la e depois passa-la adiante.

Uma demissão, um acidente, a perda de alguém muito próximo e querido, o fim de um relacionamento que, como todo relacionamento que se preze, parecia imortal. Isso dói, não há como negar. Aquela ligação no meio da madrugada que prenuncia alguma tragédia e faz você acordar com o coração disparado. Aquela conversa com o chefe um pouco antes das 18h de uma sexta-feira qualquer no fim de um mês mais qualquer ainda. Aquele abraço apertado que não necessita de palavras, muito menos de tradução. Aquela lágrima que estava apenas esperando você chegar para ser derramada.

É um choque, é uma invasão. É uma sensação que você não desejaria nem que seu pior inimigo sentisse. Mas, é ainda muito pior que isso: você precisa contar para as pessoas mais próximas, repetir aquelas palavras que você acabou de ouvir. Deixar alguém triste, com palavras que vão sair da sua boca e você não pode fazer nada para evitar que isso aconteça.

Às vezes, basta pronunciar o nome da pessoa que está do outro lado da linha para que ela saiba que alguma coisa de muito ruim aconteceu. Às vezes, um simples olhar ou até mesmo a inesperada chegada em casa umas 4h antes do que você costuma chegar. A sua dor, que foi controlada com tanta sacrifício, volta à tona, ainda mais forte, ainda mais penetrante, cortando aquele ferida que mal havia cicatrizado.

Preferia não ter que dizer, não ter que olhar, não ter que encarar. Alguns encaram como uma maneira de se dividir a dor. A verdade é que qualquer dor é indivisível. Contar para alguém não vai torná-la menor; vai torná-la mais presente, mais profunda, mais viva.

A dor que se multiplica externamente, quando contada, também se multiplica internamente. E desta vez, foi a partir da sua boca que ela tomou forma e ganhou vida. Sem que você possa fazer nada a respeito.

4 Comments:

At 10:08, Blogger semudei said...

muito bom seu texto, luiz.

 
At 15:45, Anonymous Anónimo said...

nao achei nada demais.

 
At 16:18, Blogger Unknown said...

GOSTEI!!!
BEIJINHOS

 
At 16:18, Blogger Unknown said...

GOSTEI!!!
BEIJINHOS

 

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