quinta-feira, abril 21, 2011

(não tão) Grand Finale

Em diversas entrevistas de emprego, quando me perguntavam qual era o meu grande defeito, eu quase sempre dizia que, por querer fazer várias coisas ao mesmo tempo, muitas vezes não conseguia fazer tudo.

É claro que isso era um "gorpinho" dos mais baratos, pois eu estava simplesmente dizendo que meu grande defeito era, no fim das contas, uma coisa boa (afinal, querer fazer muitas coisas é sempre melhor do que não querer fazer muitas coisas). Eu falava o que o RH queria ouvir, ou quase isso. Raríssimas vezes deu certo, mas continuo acreditando que a tática era e ainda é boa. Só espero não precisar mais utilizá-la.

A verdade é que eu não sou daqueles que gostam de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Simplesmente porque eu não consigo. Ler e ouvir música, ok. Correr no parque e ouvir música, ok. Resumindo: quando uma das atividades é ouvir música, eu quase sempre consigo fazer duas coisas ao mesmo tempo. No mais das vezes, não dá.

No entanto, andei percebendo que, mesmo sem querer, acabo fazendo várias coisas ao mesmo tempo. Quer dizer, não exatamente ao mesmo tempo. Melhor seria dizer que costumo deixar muitas coisas inacabadas ao mesmo tempo. É um tal de começar e largar sem fim, literalmente sem fim. O começo, como todo começo, sempre cheio de ânimo e ideias. O fim, na verdade, quase nunca pode ser considerado um fim, já que tendo a simplesmente não continuar, em vez de colocar um ponto final.

O que foi exatamente o que aconteceu com este blog. Depois de um início animador, fui lentamente perdendo o interesse, a vontade. Começou a dar mais trabalho do que prazer. Começou a parecer um trabalho, e não um prazer.

Mesmo assim, deixei que ele permanecesse do jeito que estava, achando que um dia voltaria a fazer atualizações constantes. Mais ou menos como aquele gordinho safado que promete que "mês que vem" começa a malhar. Sei.

Enfim, acho que este blog já deu o que tinha que dar. Acabei de ver que meu último texto foi escrito em março de 2010. Um ano sem escrever significa que não quero mais faze-lo.

Tou com uma ideia para um novo blog e, pensando bem, acho que foi precisamente isso que faltou para este blog: uma ideia. Como o seriado Seinfeld - por mais que eu admita que não é nada modesto comparar um mero blog ao seriado Seinfeld - este blog nunca teve um tema, uma ideia por trás que ligasse os textos. Acabou virando um blog sobre mim, o que não é uma coisa muito interessante, pelo simples motivo de eu não ser uma pessoa interessante. Ou ao menos não estar muito interessante no momento. É, o blog deixou de ser interessante porque eu deixei de ser interessante. Se bem que eu acho que ele afundou de vez por causa da minha falta de tempo (ficou feio dizer que não sou uma pessoa interessante; óbvio que isso está longe de ser verdade, não é, pessoal?).

Olhando bem, este texto resume de forma precisa o que foi este blog: comecei falando de uma coisa, depois falei de outra e, por fim, terminei falando de mim.

sexta-feira, março 19, 2010

Sim, muda

Quando você entra em um relacionamento, é impossível não mudar. Qualquer tipo de relacionamento. Um novo emprego, uma amizade, um namoro, um casamento. A partir do momento em que passa a interagir com outras pessoas, iguais ou diferentes de você, não tem jeito: você muda.

Muda sem perceber, muda sem se dar conta. Pior: muda achando que não mudou.

Não é ruim mudar. Pelo contrário. Passar uma vida inteira sendo a mesma pessoa é algo, no mínimo, muito chato. Sem mudar, você se torna previsível até na imprevisibilidade. Suas palavras perdem o ineditismo e tornam-se apenas eco de algo que um dia você já falou. Mais do que chato, você se torna plano, raso, sem contradições. Você vira um fundamentalista de você mesmo, sendo, concomitantemente, padre e fiel de uma única religião.

Deixa ela te mudar. Deixa ela te moldar. Sem se preocupar com o que os outros vão dizer. Sem se preocupar com esse pronome “ela” colocado de forma incorreta na função de objeto direto. Deixa. Deixa pra lá, pra cá, pra qualquer lugar. Porque ela também vai mudar. Se vai mudar mais ou menos, se pra pior ou pra melhor, tanto faz. Deixa.

É impossível lutar. Quer dizer, lutar você até pode. Vencer é que será difícil. Até porque, o próprio ato de lutar contra uma mudança é em si uma mudança, sobretudo para quem não estava acostumado a lutar. Ou a mudar. E pode esperar: um dia você muda.

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

O banheiro da firma

Salário, benefícios, ambiente de trabalho, feedback do chefe. Tudo isso é muito importante na hora de escolher um lugar para trabalhar. Tudo isso deve ser levado em conta.

Mais importante do que isso, porém, é o banheiro. Sim, o banheiro da firma. Antes de perguntar quanto você vai ganhar, antes de saber qual o seu horário de trabalho, antes de conhecer o seu chefe, você deveria conhecer o banheiro da firma. Se o mais importante de um restaurante é a cozinha, o mais importante de um escritório é o banheiro.

O problema é que se chefe é tudo igual, banheiro não é.

Tem aquele estilo vestiário, cheio de cabininhas, com as portas que sempre deixam transparecer o tênis ou sapato de quem está ali para fazer aquilo, o que facilita aquela zoadinha básica, de jogar um papel higiênico molhado por cima, desamarrar o cadarço ou apagar a luz. Esses são bons, bem impessoais, geralmente tem aquele espelhão, onde neguinho deixa espirrar pasta de dente. Nunca tem fila, a não ser pra escovar os dentes logo depois do almoço.

Tem aquele individual, com jeitão de lavabo de apartamento de Higienópolis. Não tão limpo quanto o outro, pois não há opção de cabines. Esse é complicado, já que a tendência de formação de fila é grande e, convenhamos, fila em porta de banheiro é coisa de balada, e não de firma.

A coisa complica quando o banheiro não tem uma boa localização. Quando o banheiro fica ao lado da mesa do chefe, como é o meu caso atual, é terrível. Se tem coisas que você não quer que cheguem aos ouvidos do chefe, tem outras muito piores que você não quer que cheguem ao nariz do chefe, pode apostar.

Pior: aquele banheiro que fica do outro lado da sala. Para chegar lá, você precisa passar por todas as pessoas, que, vendo a direção que você está tomando e a revistinha que está embaixo do seu braço, têm certeza do que você vai fazer. Situaçãozinha muito da chata.

É por isso que você precisa conhecer o banheiro da firma antes de fechar o contrato. Caso contrário, vai dar merda.

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Decidiu não decidir

Estava pra nascer uma pessoa indecisa como ele. Ele, que, por sinal, já tinha nascido indeciso: recebeu de seus pais um nome duplo e não conseguiu decidir se é melhor se apresentar com o primeiro ou o segundo nome. Mais de 25 anos se passaram e a dúvida permanece.

Na escola, o primeiro nome era o preferido dos amigos (não tinha muitas amigas nessa época). Em casa, era conhecido apenas pelo segundo nome, quase sempre usado no diminutivo, coisa que persiste até hoje, afinal, as mães teimam a entender que sim, os filhos crescem.

Ele demorou a pereceber que essa sutileza de seu caráter, essa indecisão intrínseca ao seu modo de vida, vinha de cedo. Nada poderia exemplificar de maneira mais precisa essa sua natureza indecisa do que o fato de, após apelidos, diminutivos e alcunhas, permanecer a dúvida a respeito de qual nome utilizar.

Todo mundo sabe quem é. Todo mundo, entre milhões de apelidos que podem surgir em casa, na escola, no trabalho, no futebol, na cama, sabe como prefere ser chamado. Todo mundo menos ele.

Não que ele pense nisso 24h por dia. A dúvida só surge de fato quando ele precisa se apresentar a alguém. A cena é clássica: naqueles breves instantes entre a esticada da mão (ou a esticada do pescoço, para dar um beijinho de bochecha) e a abertura da boca para proferir seu nome, a dúvida, tal qual um morador com dor de barriga faz com a porta de sua casa quando percebe que esqueceu a chave, bate incessantemente. Quem ele vai ser dessa vez?

A indecisão (e talvez a loucura, diga-se de passagem) fez com que ele criasse teorias acerca de sua personalidade. Definiu que o primeiro nome era mais instropectivo, mais sério, mais calça de moletom e tabuada do 7. Já o segundo era mais de esquerda, mais dos bares, mais da vida. Julgou que ter dois nomes significava que ele poderia ter também duas personalidades. A verdade é que mesmo se tivesse apenas um nome, continuaria tendo múltiplas personalidades. A desculpa dos nomes, pelo menos na cabeça dele, é que servia perfeitamente para a ausência de decisão que permeava a sua, ou melhor, as suas existências, já que não era um, senão dois.

Em momentos de indecisão, essa teoria dos nomes e das personalidades ganhava força na mente dele. Quando importantes decisões demandavam sua atenção, ele ficava mesmo era pensando nessa coisa dos nomes, nessa coisa da indecisão que nasceu com ele, muito antes de que ele pudesse ter percebido que era assim, e nada poderia fazer para mudar. Quer dizer, até poderia fazer alguma coisa para mudar isso. Ele é que não sabia, dentre as muitas opções, qual escolher.

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Spam

Oi, eu sou um spam.

Oi, eu sou a tecla delete.

Ops, melhor eu vazar.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Nunca me esquecerei do dia em que te esqueci

Nunca me esquecerei do dia em que te esqueci. Era noite. Era domingo. Era uma noite estranha de domingo. Se bem que todas as noites de domingo são estranhas, afinal, elas emocionalmente antecipam o início de mais uma semana de martírio. Antes de te esquecer, todas as semanas eram um martírio para mim.

Nunca me esquecerei do dia em que te esqueci. Naquela noite de domingo, anos e anos de memórias se foram. Anos e anos de angustiantes noites de domingo que antecipavam mais uma semana de tristeza se foram.

Nunca me esquecerei do dia em que te esqueci. Passei a olhar para as noites de domingo com mais doçura. Repentinamente elas se transformaram em noites belas, contagiantes, alentadoras, inspiradoras. Noites de domingo se transformaram em manhãs ensolaradas de sábado; ou melhor, em quintas à noite, com aquele gostinho único de só-falta-mais-um-dia-para-o-fim-de-semana.

Nunca me esquecerei do dia em que te esqueci. Era uma noite de domingo e, mais do que isso, era uma noite de domingo chuvosa. Não vou dizer que a chuva apareceu na hora certa, para lavar minha alma; muitos assim já o disseram. A chuva veio apenas para tornar este dia ainda mais inesquecível.

Nunca me esquecerei do dia em que te esqueci. Troquei a lembrança de uma vida a dois pela lembrança de um dia qualquer, por mais que uma noite de domingo não possa ser chamada de uma noite qualquer, pelo simples fato de pertencer muito mais à segunda que antecipa do que ao domingo que conclui.

Nunca me esquecerei do dia em que te esqueci. Porque foi justo neste dia que passei a lembrar de mim.

sexta-feira, outubro 16, 2009

Generalizações

Por mais que tenha vontade, não posso dizer que toda generalização é burra. Se assim o fizesse, estaria também generalizando.

Generalizar não é um erro. É uma forma de simplificar as coisas, de aproximar a realidade do nosso entendimento, muitas vezes ocultando partes importantíssimas da história. Por falar em história, é incrível como fui enganado pela minha professora do colegial. Para facilitar nossa compreensão, ela fazia generalizações das mais diversas, sempre naquele esquema estanque de causa e consequência, como se todos os eventos fossem facilmente explicados. Em suma, ela mentia.

Muitas vezes temos preguiça de pensar e utilizamos a generalização para traduzir aquilo que sem ela seria impossível explicar em pouca palavras. Quando falamos que o Federer é o Pelé do tênis fazemos uma generalização. Com essa afirmação um leigo, uma pessoa que nunca jogou tênis, saberá que o Federer é o melhor jogador de todos os tempos. Mas isso faz dele um Pelé? Não estamos exagerando quando fazemos essa comparação?

Tendo a desconfiar quando ouço frases que começam com "todos", "tudo", "sempre" e "nunca". Só não digo que sempre desconfio, porque generalizar não é muito a minha praia.