quinta-feira, julho 23, 2009

Afilhada

Foi só depois de descobrir que ela tinha uma afilhada que me apaixonei. Na verdade, minto. Já estava apaixonado, mesmo antes dessa nova informação. O fato é que saber disso me fez querer mostrar, dizer, escancarar.

Mulheres com afilhadas deixam de ser simples mulheres. Se não viram heroínas, como as mães, se transformam em musas. Elas ganham a doçura que muita vezes apenas as enfermeiras têm. Meigas, carinhosas, amorosas: elas ganham novos adjetivos, sem perder os antigos.

Ela, que já era assim antes de se tornar madrinha, ficou ainda melhor depois. Quer dizer, se antes de saber disso eu já a tinha como única, depois eu passei a considerá-la como perfeita. Ou quase.

A não ser por fotos, nunca tinha visto a tal afilhada. Não sabia como era sua voz, nem sua altura, nem se tinha dificuldade com matemática ou se tinha uma amiguinha chamada Bruna. Sabia sim, que como toda afilhada, ela tinha entre 5 e 8 anos e morava numa cidade distante, do interior. Afinal, não vejo a menor graça em ter uma afilhada que mora na cidade grande.

Isso pouco importava. Sua simples existência é que emprestava todo o charme a sua madrinha, lembrando que a crase antes de pronome possessivo é opcional. Aliás, bom ter falado em posse: se era ela que tinha uma afilhada, era eu que tinha a sorte de ter a madrinha.

Filha, irmã, neta, prima, sobrinha. Ela era tudo isso, mas nem havia toda essa necessidade. Ser madrinha era o que importava.