sexta-feira, junho 23, 2006

Tirei o ciso

Tirei o ciso. Na verdade, foram dois, os do lado esquerdo. Achei que fosse doer pra cacete, confesso. Talvez por isso, fiquei tão feliz quando descobri que seria uma mulher que faria a operação. Pensei comigo: “Mulher é frágil, meiga, sensível. A não ser que ela esteja de Tpm, vai correr tudo bem, não vou sentir nenhuma dorzinha”. Rá, como diria o Serginho Mallandro. É, eu entro no consultório e todas as minhas previsões vêm abaixo. A dentista é mulher, mas tem mais de 1,80 de altura, ex-jogadora de basquete ou vôlei. Haja coração, amigo!

Ela falava: “Vou apertar um pouquinho”. Eu pensava: “Só agora que você vai apertar? Fudeu”. Bom, sem exagerar muito, a operação foi rápida pra cacete. Em menos de uma hora lá estava eu, não conseguindo falar direito, com o lábio dormente, quase igual ao da Margie Simpson. Tirando a dorzinha inicial, tudo correu bem. Quase tudo, pra ser sincero. Teve uma coisa que me incomodou muito, muito mesmo. A luva da dentista. O motivo? Ela é feita de látex, mesmo material usado na fabricação de camisinhas. E ela enfiava a mão na minha boca de 2 em 2 segundos. Não que eu já tenha colocado uma camisinha na boca, mas, né, com o perdão do trocadalho, eu sei o cheiro que aquela porra tem. Enfim, com aquele cheiro de camisinha na boca, eu sentia que estava fazendo um boquete. Foda. Literalmente.

Fim da cirurgia, volto pra casa. Sorvete e só coisas líquidas por uns 3 dias. Nada de movimentação, nada de falar demais. Só esqueci de falar uma coisa. Eu tirei os cisos ontem, 23 de junho, dia do jogo do Brasil. Não tinha me tocado quando marquei a data. Bom, paciência, tive que ver o jogo sem poder falar. Sem poder gritar. Sem poder sair de casa pra encher a lata com os amigos em algum bar da moda que comprou tv de plasma especialmente pra Copa. Achei que ia ser sussa. Brasil x Japão, jogo fácil, no mínimo uma goleada.

Tinha me esquecido que jogo do Brasil é sempre jogo do Brasil. Você sempre vai querer gritar, você sempre vai querer xingar o Lúcio, você sempre vai pedir o Robinho no segundo tempo. Minha sorte é que o Parreira não dificultou as coisas dessa vez, e saiu jogando com um puta time. Só não tirou o Lúcio, mas, também, pra colocar o Cris no lugar, melhor deixar do jeito que tá. Mesmo assim, foi foda me conter. Depois de 20 minutos de jogo, o Brasil tinha dado uns 5 chutes no gol. A cada lance, sem poder gritar, eu levantava os braços, chutava a cadeira, só não abria a boca. Até que o Japão fez o gol. Na costas de quem? Do Lúcio, amigo, do Lúcio. E eu com a boca fechada. Sorte do Lúcio, senão ele teria ouvido várias.

Ainda bem que o Ronaldo Bolota fez o dele antes do intervalo. Enquanto todo mundo pula gritando gol, lá estou eu, comemorando como se fosse surdo-mudo balançando as mãos. Me senti um completo autista. Todo mundo comentando sobre o jogo e eu quietinho. Quando tentava falar alguma coisa, as pessoas perguntavam: “O que foi? O que foi que você disse? Quer uma água? Quer ir no banheiro?”.

Não, o que eu queria mesmo é que mudassem de canal, só isso. Ou que o Galvão resolvesse tirar o ciso em dia de jogo do Brasil.

terça-feira, junho 06, 2006

Atendente de Telemarketing sofre

Pense em alguém que você odeie. Odeie muito. Assim, de não poder ver nem na frente e o escambau. Posso adivinhar? Atendente de telemarketing. Acertei? Bom, se não acertei, com certeza eu passei perto. Porque eu duvido que alguém goste dessas pessoas. Essa mania de gerúndio, esse “vou estar te enchendo o saco, senhor”, essas ligações às 9h da madrugada de sábado, aquelas musiquinhas toscas que elas deixam na hora de transferir a ligação. Atendente de telemarketing irrita. E o que é pior: elas sabem disso, e não fazem o mínimo de esforço pra melhorar a situação.

Olha, é até compreensível que elas não estejam nem aí pros clientes. É uma profissãozinha de merda, pra falar num português mais coloquial. Ninguém sonha em ser atendente de telemarketing. Aliás, chamar de sonho é bondade. As pessoas têm pesadelos com essa profissão. Vai dizer, criança inventa um monte. Um dia querem ser astronautas, no outro querem ser cientistas, no outro querem ser casadas com jogadores de futebol (Kaká lindoo!) e por aí vai. Agora, já viu criança dizendo que vai ser atendente de telemarketing?

Mas chega de meter o pau nessa profissão. Não dá pra esquecer que esses profissionais também sofrem. É chefe dando dura, cliente mal humorado, ter que ficar de plantão em dia de jogo de Copa, essas coisas. E digo mais, ainda bem se fosse só isso. Vou explicar. Tava lendo o jornal de ontem(domingo), dando aquela olhada sem compromisso, só pra matar o tempo. Sem querer, cai na minha mão o caderno de Oportunidades. Nada mais que um Caderno de Empregos metido a besta, vamos deixar claro. Folha vai, folha vem, estou lendo um daqueles anuncinhos classificados. Entre um anúncio de ar condic. em bom estad. e outro de apart. Moema 3 dorm. c/ garag., eis que encontro: Abeli 19 A – capa de revista – R$ 150. Sim, é isso mesmo que vocês estão pensando. Pode ser ingenuidade minha, mas eu não sabia que anúncios como esses apareciam no caderno de Oportunidades. Veja bem, o caderno se chama Oportunidades. E o pior é que não tinha só um. Tinha praticamente uma página inteira só com anúncios desse nível pra baixo.

O que isso tem a ver com as atendentes de telemarketing? Se você não sabe, se você nunca tentou vender seu Master System nos classificados do Estadinho, vou te explicar como funcionam os classificados de um jornal. Não tem nada de complicado. Você liga lá e fala que quer anunciar. Pronto. A atendente então pede pra você ditar o texto. Entendeu? Você dita o texto. Dita. Palavra por palavra. Cara, imagine o que essas pobres atendentes não tem que passar. Porque uma coisa é ouvir “Corsa 1.8, dir. hidrau. c/ cd.”. Isso aí todo mundo faz numa boa, na moral, não tem erro. Agora, e esses anúncios de sexo? O cara liga e já solta um “Amadeu. Dotado. Quer dizer, dotado não. Cabe hiper dotado? Isso, pode abreviar o hiper. Deixa hip. Completo. Aceito casais. O que? Não coube? Tira o hiper, então”. Pô, não tem como não ficar constrangido. E deve ser isso o dia todo. “Adri Boca Mágica. P/ homens de bom gosto”, “Bianca Alemazinha. Branquinha, completinha, me dá leitinho”. Cara, não tem como trabalhar num lugar desses. É humilhação atrás de humilhação. Fora que você tem que agüentar essas baixarias como se fossem coisas normais. “Senhora, não coube o ´quero te engolir inteiro´. Posso abreviar?”. Ou liga uma senhora japonesa, voz de meia idade, distinta, e solta: “Doutora Oyama. A verdadeira. Relax for men desde 1970”. Ou ainda “Sueli Coroa Sarada. Bjo. grg. ativ/pass.” Ou pior, se é que dá pra piorar: “Julia Danadinha. Bb farto. Vadia. Escandalosa. Moema”

Eu só ainda não sei o que é pior. Ser a atendente, ou a pessoa que tá ditando do outro lado da linha.