quarta-feira, março 29, 2006

Tem o cartão Mais, senhor?

Assim, eu não tenho um cartão Mais. Aquele cartãozinho, que as caixas do supermercado oferecem, sabe qual? Então, não tenho. Há uns 10 anos eu vou ao supermercado sozinho, mas ainda não tenho um desses. Nunca achei que fosse precisar, nunca vi muito uso, nunca dei muita importância. Mas, vou falar um coisa: depois de tanto tempo, tô começando a rever minha posição.

Verdade. Tô com a impressão de que estou perdendo um negócio da China. Não sei vocês, mas toda vez que vou ao supermercado, a mocinha do caixa me oferece um desse. Ela quase emenda o “bom dia” com o “tem o cartão Mais, senhor?”. E quando eu respondo “não, não tenho” ela faz uma cara de espanto. “Meu deus, como o senhor não tem?” “Nossa, o senhor não sabe o que está perdendo!”
“Meninas. Esse senhor não tem o cartão Mais. Pode uma coisa dessas?”. Por isso eu acho que esse cartão deva ser muito bom. Senão elas não insistiriam tanto para eu fazer um. Não é verdade?

Já posso imaginar a felicidade dos clientes que tem esse cartão. “Senhor, como o senhor tem o nosso cartão, o senhor vai receber R$ 0,11 de desconto nesse alvejante. De R$ 2,39 vai ficar por R$ 2,28!” Cara, imagina só: essa pessoa compra, vai, não mais que 1 alvejante por mês. No fim do ano, são 12. Sabe quanto de desconto? R$ 1,32! E se ele investir esse dinheiro num fundo qualquer, deve render mais ou menos uns 15% ao ano. Meu, quase R$ 0,23 por ano, tem noção?

Putz, e não é só isso. Quem tem esse cartão ganha muitas vantagens. Saca só, a cada R$ 200,00 em compra, você leva 2 copos. Cê acredita? Por quase nada, você recebe 2 lindos copos. Imagina a cara da sua mãe quando você chegar com esses copos em casa. Se bobear, ela tem até um ataque do coração, tamanha a felicidade. E ouvi dizer que ainda tem conjunto de talheres, panelas, só coisa legal. É tanta coisa, que você vai ter que separar um armário na sua casa só pra isso.

Caramba, realmente é uma oportunidade que não dá pra perder. Ou vai dizer que você não ficou tentado em fazer um cartão Mais? Eu admito, devia ter dado ouvidos para as caixas de supermercado. Elas estavam certas. Eu preciso de um cartão Mais, urgente. Vou ganhar um monte de desconto, vou ganhar brindes irados.

Ah, e esqueci do principal. As caixas de supermercado nunca mais vão perguntar: “Não gostaria de fazer uma cartão Mais, senhor?”.

quarta-feira, março 22, 2006

Guarda-chuva. Ou não.

Se alguém souber onde vende guarda chuva, por favor me avise. A princípio, não faço idéia de onde comprar um guarda chuva. Num supermercado, numa loja de conveniência, numa banca? Não sei. Até guarda sol é mais fácil. Você vai numa loja de coisas pra praia e pronto. Lá está seu guarda sol, suas cadeiras de praia, esteiras, etc. Mas não existe loja de coisas pra chuva. Talvez em Quito. Só. Porque teoricamente é no Equador onde mais chove no planeta. E em Londres também. Mas enfim, essas lojas não existem por aqui e ainda não sei onde comprar um em caso de emergência.

Agora, extraoficialmente, eu sei onde comprar um guarda-chuva: vendedores ambulantes. Se os índios deixaram alguma herança pro povo brasileiro, foi a capacidade de prever a chuva. É impressionante como esses caras brotam minutos antes da tempestade. E é só no caso de tempestade mesmo, porque quando a chuva é fraca eles aproveitam pra se desfazer das capinhas de plástico. Aliás, existe uma dúvida que ninguém sabe responder direito: você se molha mais andando na chuva ou correndo? Eu respondo: usando a capinha. Elas são muito não práticas. Sem falar que é o produto que inflaciona mais rápido do mercado. Mercia até menção no Guinnes. Antes da chuva, uma é R$ 2 e três é R$ 5. Durante, uma é R$ 10 e duas é R$ 25. Duas por R$25? É, isso mesmo. No desespero da chuva qualquer coisa parece um bom negócio.

Mas enfim, não vou falar mal só da capinha porque guarda-chuva também não é lá tão mais eficiente assim não.

Primeiro que eu nunca vi um guarda-chuva que abre fácil. Não existe. Taí uma oportunidade pra lançar um produto e ganhar muito dinheiro. (Só não esquece de abrir uma loja também). Porque é sempre assim: a chuva começa a milhão e você lá, numa cena que só não é mais patética, porque todo mundo que tem um guarda-chuva também está tentando abrir o seu.

Lógico que quando você consegue, a chuva já deu aquela amenizada. E aí vem a pior parte. Sempre aparece alguém querendo uma “carona”. Poucas coisas irritam tanto quanto carona de guarda-chuva. Ficam alí, duas ou três cabeças coladas uma na outra, andando a 2 por hora e sem conseguir ver pra onde estão indo. Aí as poças, telhas e galhos de árvore se divertem. E você tomando chuva de todo lado, porque só 3% do seu corpo está coberto pelo suposto guarda-chuva.

Isso, claro, sendo otimista. Porque, na real, não dá nem pra cogitar a possibilidade de sair de casa todo dia com guarda-chuva. Só celular, carteira e chave já incomadam o suficiente. Ou seja, a chance de você sair com guarda-chuva no dia certo é muito próxima a 0. Até porque, você deve ter descendência européia e não indígena.


Colaboração: Beatriz Sanches (tks baby)

quinta-feira, março 16, 2006

Tô em crise

Tô em crise. Em crise com esse mundinho publicitário em que me meti. Em crise com as pessoas, com os esquemas, com as punhetas, com a babaquice, com a ignorância. Chega de ter idéias brilhantes, de ter hora pra entrar e não ter hora pra sair, de só falar de propaganda, de só entrar em sites de propaganda, de só viver pra propaganda.

Chega de almoçar correndo, chega de dormir cedo ‘porque amanhã eu tenho reunião as 9h’, chega de ouvir todo mundo comentando sobre o Big Brother. Chega de termos em inglês, como ‘background’, ‘feedback’, ‘player’, ‘target’, ‘share’ e o caralho a quatro. Não adianta nada falar duas ou três línguas, se você não tem algo relevante pra dizer em nenhuma delas. E chega de usar palavras da moda, como ‘relevante’, ‘paradigma’, ‘viés’, só porque ouviu alguém importante falando.

Chega de ler a Veja, chega de puxa-saquismo, chega de www.hidemyass.com ou de www.filter2005.com ou de www.browseatwork.com só pra entrar no Orkut, aliás, chega de Orkut, chega de msn, chega de timesheet.

Chega de camiseta com alguma coisa bacana escrita, chega de manguinha curta, chega de calça jeans com a barra dobrada, chega de tênis retrô da adidas ou da puma, chega de jaquetinha. Chega de prêmios, chega de archive, chega de young creatives. Chega de comer pizza de madrugada, chega de comemorar quando você sai antes das 19h, chega de trabalhar no fim de semana, chega de esquecer que tem alguma coisa lá fora chamada ‘vida’.

Chega de ser a pontinha da iceberg, chega de ver que tá tudo errado e que pouca gente percebe, chega de achar que faz bem ser gordo, careca e sem mulher aos 35, chega de só jogar futebol no playstation (se bem que é playstation é loko pra cacete). Chega de banco de imagens, chega de briefings mal-escritos, chega de atendimento leva-e-trás, chega de diretor de marketing que não entende nada nem da própria empresa.

Chega de neguinho que acha que faculdade não serve pra nada, chega de reuniões infindáveis, chega de achar que a melhor profissão do mundo é essa, que num te dá nem 1 segundo sequer pra saber o que acontece no resto do mundo.

Chega de produtos iguais, chega de diferenciais iguais, chega de ‘dry fit’, ‘cathc 3’, ‘prebio 1’, ‘lactobacilos vivos’, ‘ômega 3’, ‘gsm’, ‘micorpartículas polidoras’ e outras coias que não dizem absolutamente nada, mas que fazem vender mais.

Chega de não ter tempo, chega de não se importar com isso, chega de não se imaginar trabalhando com o que você faz hoje daqui 5 anos.

E chega de ter que desabafar a cada 5 minutos.

segunda-feira, março 13, 2006

É bom, mas

Locadora pequena nunca tem filme ruim. Pode ser sábado chuvoso, um puta dia propício, ou qualquer outro dia. Pode apostar, sempre tem filme legal. Não que eu ache isso. Pra mim, sempre é difícil achar um filme bom. Fico na dúvida, leio sinopse, pego outro, faço o diabo. São os donos/ atendentes/ balconistas das locadoras que acham isso.

Pode checar. É pegar um filme, olhar pra caixinha com cara de “levo ou não levo” e eles já vem atirando. “Esse filme é bem legal, viu?” E eu dou corda. “É mesmo?” Pronto, fudeu. O cara vai exercitar todos os dotes de Rubens Edwald Filho que ele acha que tem. “É, é legal. Mas é comédia romântica, né?” Eu faço um não com a cabeça, comédia romântica não é a minha praia. Filme de amor não é a minha praia. Aliás, filme que tem amor no nome não é minha praia. “Simplesmente amor”, “De repente amor”, “Meu primeiro amor”, “Um amor de verão”, etc, etc, etc. Tudo bem que as vezes isso é culpa da tradução. Anyway. Se tem amor, só pode ser um horror.

Enfim, todos os filmes da locadora são bons. Mas. É, é bom, mas. É bom, mas é comédia romântica. É bom, mas é meio picante. É bom, mas é uma história triste. É bom, mas é meio Steve Martin, sabe? Pra eles, bom é quase um advérbio. E como todos são bons, logo, todos são ruins. Não é mais fácil dizer “É uma comédia romântica legal”? Já que o bom não significa nada, nem precisa falar que é bom então, oras. Céus.

E até parece que esses atendentes viram todos os filmes que tem lá. Tudo bem, tem sempre algum filme passando naquela tevezona que fica num suporte grudado na parede. E das 10h até as 17h, eles não tem muito o que fazer, a não ser alugar fita de Playstation pra mulecadinha. Tá, eles até têm tempo de ver filme. Dúvido é que eles tenham saco.

E outra, pra assistir e depois falar “É bom, mas”, nem assiste. Desculpa, mas nem assiste.

quarta-feira, março 08, 2006

As tampas de bueiro

São Paulo tem buraco pacas. É impressionante, você desvia dum, cai noutro. Pra suspensão ir pro saco, é dois palito. E aí a roda entorta, o carro fica desalinhado, você paga uma nota pra consertar. Dois meses depois, tem que fazer tudo de novo. Foda.

Agora, os buracos tão levando a fama, mas não são os únicos responsáveis não. Mais ou menos como Niemeyer e Lúcio Costa, manja? O Niemeyer fez o que? Meia dúzia de rabisco? Já o Lúcio Costa fez todo o resto. O que não era rabisco era com ele. Quem ficou com a fama? O rabisqueiro. Enfim, os comunistas vão querer me bater, mas é verdade.

Voltando ao assunto, não tô dizendo os buracos não tenham culpa. Ô, se tem. O que ninguém critica são as tampas de bueiros. Sabe, aquelas tampas redondas, que ficam no meio da rua. Prestenção. Eu nunca vi uma tampa de bueiro que estivesse no nível da rua. Que nem enterro de anão ou cobrador de pedágio japonês. Nunca vi. Tampa de bueiro que se preze, ou é mais alta, ou é afundada.

Tô falando isso, porque no meu caminho pro trabalho, passo por várias. Sempre tento desviar, mas parece que elas perseguem meu carro. Me lembra muito aquele joguinho, Mario Bros, pra Nintendinho. Quando você pegava um cogumelo, vinha uma musiquinha e aparecia na tela “1 up”. Com as tampas de bueiros é ao contrário. Quando você passa em cima de uma delas, você num ganha nada. Dor de cabeça, talvez.

Por que ninguém arruma aquelas tampas? Ou será que é de propósito? “Hum, essa aqui ficou mal colocada. Tá muito no nível da rua. Vamos rebaixar mais um pouco”. Talvez eles até façam isso pra mostrar que estão trabalhando. É, pensa bem. Se todas elas fossem no nível da rua, ninguém ia perceber que essas tampas estavam lá. Agora, como você tem que desviar ou acaba caindo em uma delas, você acaba percebendo a existência das dita cujas. “Nossa, já passei por cima de três tampas de bueiros hoje. Como essas pessoas trabalham!”

Ou talvez seja um pedido das montadoras de carros. Não tenho certeza, mas com essa onda de “off road”, acho que elas precisavam de um apelo a mais pra vender. “Olha, põe uma tampa de bueiro bem alta naquela avenida. Aí, quando neguinho passar por cima, vai pensar: putz, peciso de um carro alto. Preciso de um off road”. Bela estratégia de marketing. Vamo foder a cidade pra vender mais carro.

Outra coisa, quem coloca essas tampas ali? Deve ter uma equipe especializada e tal. Não sei, mas tenho uma leve desconfiança que sejam os mesmos caras que constroem as lombadas. Meu, num tem uma lombada igual a outra nessa cidade. Ou é grande demais, ou é alta demais, ou é curta e fina. Nem quando são seguidinhas elas são iguais. As vezes seu carro quica, as vezes você nem sente. Só pode ser de propósito também.

Deve exister um departamento de “Lombadas e tampas de bueiros” na prefeitura. Lá só trabalham aqueles caras que não sabem fazer muita coisa, que deram errado em todas as outras áreas. “Você é vesgo? Tá contratado.” “Nunca conseguiu fazer uma casinha de lego? É de você que a gente precisa”. “Seus castelinhos de areia eram sempre os mais feios? Você vai ser chefe de seção”.

E depois ainda dizem que os funcionários públicos não fazem nada. Claro que fazem. Fazem cagada.

quarta-feira, março 01, 2006

VOCÊ TEM HORAS?

Relógio de pulso é uma coisa que já perdeu sua utilidade e mesmo assim muita gente ainda usa. Basicamente, hoje ele tem a mesma função de um brinco, uma pulseira ou um colar. Nenhuma.

O grande responsável por essa inutilidade relogial são os celulares, que nos últimos anos invadiram nossos bolsos. Eles entravam e o dinheiro saía (todo mundo lembra como era caro um tijolão daqueles). Com um relógio no bolso, ninguém mais precisa de um no pulso. É totalmente desnecessário. A não ser, é claro, que você encare como uma forma de estilo ou de mostrar que você tem grana - só um parentêses: o que são essas pessoas com pulserias e relógios de ouro? Não entendo. Pra que?? São feios, largos e chamam demais a atenção. É praticamente um imã de bandido. Porque você iria querer um negócio desse no pulso? Enfim, não é um bom presente pra me dar.

Mas voltando a inutilidade inicial dos relógios. Nessa dança, até os despertadores acabaram rodando. Porque os celulares agora também vem com despertador. E musiquinhas mais legais do que o pééé-pééé-pééé-pééé - pééé-pééé-pééé-pééé ou, no caso do rádio-relógio, daqueles locutores de rádio que acabam dando mais sono ainda. Por isso não funcionam. Você sempre acorda com mais sono do que quando deitou.

Foi pra resolver esse problema que criaram um outro: o snooze (ou soneca, ou timer, ou sei lá o que). O snooze é a pior e a melhor invenção do homem ao mesmo tempo. Quando você consegue adiar o alarme por mais 5 minutos, parece que ganhou uma noite mais. Mas quando percebe que perdeu uma hora de sono acordando de 5 em 5 minutos, fica inconformado. E com razão. Todo mundo sabe o quanto vale um hora de sono. Merecia até uma campanha Mastercard “Um travesseiro com penas de ganso: R$ 500. Um despertador que toca de 5 em 5 minutos: R$ 50. Acabar a luz a noite e o despertador não tocar: não tem preço.”

É por isso que os celulares funcionam mais. É só arremessar ele longe que você é obrigado a levantar. Mas como isso exige muita disciplina e pouco amor próprio, alguns utilizam a técnica do “adiantar 5 minutos”. Muito inteligente: você adianta o relógio 5 minutos como se fosse esquecer imediatamente que ele está adiantado. Olha, a não ser que você seja uma mula que nem os atendentes de telemarketing, essa técnica não tem o menor propósito.

Mas aos poucos, isso vai se tornando um vício populacional. Se espalha como se fosse um vírus. O cara que vive atrasado percebe que está na hora de adiantar o relógio. Ele então olha no celular do cara que trabalha na mesa do lado - e que já tem o horário adiantado: 11h10. No dele então já passa a ser 11h15. Consequentemente, no da mulher dele passa a ser 11h20. No da vizinha da mulher dele, 11h25. No da manicure da vizinha, 11h30. No do amante da manicure, 11h35. No da secretária do amante, 11h40. No do entregador de pizza da secretária, 11h45. No da distribuidora de folheto na esquina da pizzaria, 11h50. No do pessoal do bairro da distribuidora de folheto, 11h55. Pronto, já é hora do almoço naquele bairro. E eram só 11h00.

Engraçado que tem gente que ainda não sabe porque os anos passam cada vez mais rápido.

A véspera de Natal na 25 de março

“Bacana esse tênis”
“É, legal. Também curti.”
“Só essa cor que eu não curto muito”
“Eu também não. Ah, pergunta aí, vê se ele tem de outra cor”
“É, tchô perguntar, péra aí”. “Opa, tudo bem?”
“28”
“O que?”
“28 esse, 28”
“Ah, não, eu não quero saber o preço”
“Ganha meia. Blinde”
“Sei, sei. Mas, escuta, cê tem outra cor desse aqui?”
“25 pla você. Ganha meia”
“Tá, já sei o preço. Mas eu queria outra cor”
“Tem camisa, calçón. Oliginal, oliginal. Tudo oliginal. Tudo ”
“Não. Eu quero saber se tem esse aqui de outra cor. Olha. Esse, ó, esse. Outra cor. Cor.”
“Ah.”
“Então, tem outra cor?”
“Tem pleto.”
“Mas esse aqui é preto também”
“Só pleto”
“Não tem outra cor?”
“Pleto. Bonito pleto. 25. Ganha meia”
“Só tem preto?”
“Pleto”
“Ah, sei. E de outro modelo, o que você tem de cor?”
“ Tudo 28. Esse 30. Impotado. Aqueles 28. Oliginal, oliginal”