Sorte
Comprei um daqueles vinhos que meu tio “enochato” indicou. Caberlot ou Mernet, ou algo que o valha. Não sou bom pra decorar nome de gente. Pra nome de vinho, menos ainda.
Li o guia do jornal duas vezes, até descobrir um restaurante novo, que estava abrindo ali nos Jardins. Chef brasileiro, que tinha passado uma temporada na Provence. Misturava “toques provençais com uma roupagem diferenciada”, como disse o crítico. Achei interessante. Liguei e reservei uma mesinha longe do banheiro, pois lembrei daquela nossa não tão agradável experiência naquele restaurante mexicano (deve ter sido a pimenta).
Levei o carro pra lavar. Naquele posto onde 35 litros valem uma ducha grátis, das 10h às 17h. Claro que dei uma gorjetinha pro frentista, e aí ele caprichou. Até tirou os tapetinhos e passou uma parada que deixou os vidros mais translúcidos. E trocou aquele lixinho que fica preso na marcha e atrapalha na hora de dar ré, que estava cheio de papel de bala de motel.
Comprei uns sabonetes especiais, uns cremes afrodisíacos. Coisa de mulher, mas eu queria impressionar.
Encomendei uma dúzia de rosas colombianas. Pedi pro meu amigo poeta escrever um cartão especial, com uma citação em italiano, pra dar aquele tchans.
Por fim, deixei no ponto o Acústico do Luiz Melodia, que nunca falha. (Deixei aquele CD rosa da Marisa Monte também por perto, nunca se sabe).
Estava tudo pronto pra você. Mas deu caixa postal. Uma, duas, talvez mais vezes. Até que, quando eu já tinha desistido, você atendeu. Só pra dizer que ia sair com suas amigas hoje.
E eu fiquei lá em casa, todo arrumado, perfumado, pronto pra você.
Sorte que Ana tava em casa quando eu chamei ela pra sair.