terça-feira, dezembro 16, 2008

As histórias que as gavetas contam

Gavetas são profundas. Gavetas guardam bem mais que fotos do reveillon em Boiçucanga, que comprovantes de pagamento de pedágio com foto de criança desaparecida, que extrato apagado de banco, que certificados de conclusão de curso, que certidão de nascimento. Elas guardam histórias. Mais que isso: elas guardam histórias que só elas podem contar. De um jeito único, impossível de ser copiado.

Gavetas são os tonéis de carvalho das histórias. Elas dão sentido, dão sabor, consistência às histórias. Gavetas transformam meras lembranças em mitos. Casos sem importância em relacionamentos inesquecíveis. Uma foto que fica anos em uma gaveta, quando volta ao mundo real, ganha contornos que nem o melhor fotógrafo ou a melhor câmera poderiam dar. Anos de gaveta deixam as pessoas mais gatas, mais gostosas, mais interessantes e, sem dúvida nenhuma, com muito menos defeitos.

Gavetas fazem um bem danado para o passado, mas um mal tremendo para o presente. Elas distorcem realidades, trazem à tona lembranças que nunca deveriam ser mais que apenas isso: lembranças. Gavetas são varas de pescar que entram fundo em seus pensamentos e pescam aqueles que deveriam ficar por ali, descansando bem no fundo, perto das algas e dos tubarões.

Gavetas são um mal necessário. Gavetas não guardam coisas. Elas apenas escondem muito bem aquilo que você deveria ter jogado fora quando teve a chance.