quarta-feira, abril 16, 2008

Menino prodígio

Ele sabia que aquele não seria um dia comum logo quando entrou no elevador e viu seu vizinho de 4 anos vestido com uma roupinha de Batman. Até aí, nada de mais, é verdade. Mas o sorriso do pestinha, que invariavelmente apertava os botões de todos os andares que conseguia alcançar (ainda bem que por enquanto ele só chegava ao 2o andar), revelava que algo ali não estava bem. Até mesmo porque, dessa vez, apenas um botão estava apertado. E não era comum o garoto sorrir daquele jeito.

Não que ele reparasse muito no sorriso de crianças de 4 anos. Muito menos que ele reparasse em crianças de 4 anos. Isso era coisa de padre. Ele odiava crianças. Principalmente por causa de suas últimas experiências com filhos de ex-namoradas, que viviam dizendo que ele era muito mais feio que os pais deles. O pior é que ele era mesmo muito mais feio que os ex-maridos de suas ex-namoradas. Só que nenhuma criança precisava dizer isso para ele em uma manhã de sábado.

O fato é que ele desconfiou do pestinha do 4o. Talvez pelo sorriso. Ou talvez pela mãe dele ter ficado vermelha de vergonha quando a porta abriu no térreo e ele entrou. Parecia que ela não esperava que alguém fosse entrar. Se bobear, até torcia para que ninguém entrasse. Estranho? Sim, muito, e ele também achava.

Segundos após, o elevador chegou ao 4o. E neste momento ele relaxou, apesar de desconfiado, simplesmente pelo fato de ver o moleque sumir de sua frente. Dane-se esse moleque chato, pensou. Até que, aos 45 do segundo tempo, quando sua mãe já o havia arrastado porta adentro, o pestinha gritou: Eu fiz xixi na calça!

Ele entendeu. E riu. Mas por apenas um instante. Porque no instante seguinte ele sentiu um molhadinho em seu pé.