sexta-feira, julho 27, 2007

Perdido no estacionamento

Estacionamento de shopping parece ser feito pra deixar a gente perdido. Chega a ser pior até do que aqueles labirintos de parquinho, manja? Pelo menos não cheira a mijo, mas é pior, com certeza.

Porque eu nunca fui num shopping sem me perder no estacionamento. G3, G5, F7, E2: essa combinação letra e número não entra na minha cabeça. Pra confundir um 3 com um 5, ou um G com um F, é dois palito.

Pra mim, a solução pra isso é simples: coloca uns nomes lá. Cada shopping arranjava um tema e colocava nomes relacionados. Por exemplo, o Iguatemi escolheu o tema “pessoas”. Primeiro andar, poderia ser: corno. Segundo andar: pinto pequeno. Esses dois andares, provavelmente, permaneceriam bem vazios, o que nos leva ao terceiro andar: mentiroso. Pronto. Não tem como esquecer, tem?

Outros shoppings poderiam escolher outros temas. Esporte. Primeiro andar: Quem é que sobe, amigo? Segundo andar: vôlei não é esporte. Terceiro andar: Acelera, Rubinho! Tá vendo, mesmo quem não gosta de esporte lembra.

E dá pra fazer isso com vários temas. Um bem específico: Maluf. Primeiro andar: rouba mas faz. Segundo andar: estupra mas não mata. Terceiro andar: Se o Celso Pitta não for um bom prefeito... E no quarto andar, como não podia faltar: foi Maluf que fez.

Agora, o que eu queria saber mesmo é quem foi que criou estacionamento com letrinha e número.

segunda-feira, julho 16, 2007

Intelectual

Essa era uma intelectual convicta. Daquelas que freqüentavam exposições, liam mais de um livro por mês, iam ao Sesc Paulista. Gostava tanto de filosofia como o Toninho de futebol. Enquanto ela vinha com Nietzsche, Rousseau e Diderot, ele era mais pra Ballack, Schevchenko e Beckham.

O fato é que Toninho tinha sido avisado. O Carlão tinha dado umas dicas, falou que era mulher difícil, enrolada. Difícil pra você, foi a resposta do Toninho. Ela fala francês que nem português, respondeu o Carlão. Deixa comigo. Eu estudei no Dante, finalizou Toninho.

Quando começaram a conversar, ele logo tomou o controle. Não queria deixar o assunto ir pra campos desconhecidos, afinal, não sabia tanto quanto ela. Falaram de cinema, por sugestão dele, mas mudaram de assunto assim que ele percebeu que vinha filme iraniano na parada.

Foram pra livros. Ele xingou Paulo Coelho, ela riu. Ela citou Tolstoi, Dostoievski, Joyce. Ele foi mais raso, mas acertou quando mandou um George Orwell. Nunca tinha lido um livro dele. Tinha lido uma resenha, só isso. Mas foi bem, convenceu. Tanto que os olhos dela brilharam. E eles foram prum lugar mais, digamos, “tranquilo”.

No dia seguinte, ele acordou citando Dante. Em italiano. Ela respondeu com Kafka. Em alemão. É, ela não era tão intelectual assim pra saber checo. Assim foram indo, até que o repertório dele se esgotou. Parou em Nelson Rodrigues, depois de ter usado todo seu conhecimento de livros que tinha lido na época do vestibular. Ela percebeu, mas fingiu que não. Tava mais interessada em ouvir as notícias do rádio. Queria saber quanto tinha sido o jogo do Timão.