O ônibus que você não pegou
O final de um relacionamento é como um ônibus que você corre, corre, mas não consegue pegar. No começo você acelera o passo, tenta pegar, vai atrás, faz de tudo. Você olha o farol fechado, acha que vai dar tempo, se enche de esperanças e corre. Mas aí o farol abre, ou o ônibus tá cheio, ou o motorista não vê você chegando e pronto: você não consegue subir. O ônibus vai e você fica.
Sua reação natural é ficar puto, gritar, xingar o motorista, achar que não vai mais conseguir viver. Você acha que perdeu seu compromisso, que não vai chegar mais a tempo, que já era. Se o tempo estiver ruim, com aquele friozinho, aquela chuvinha, e você estiver sozinho ali no ponto de ônibus, é ainda pior: capaz até que caiam algumas lágrimas do seu rosto.
Aí você vai sentar na calçada com aquele ar triste e esperar. E talvez você lembre que deixou um livro na sua mochila. E talvez você resolva abri-lo enquanto espera chegar o outro ônibus. A espera então deixa de ser triste. Quer dizer, fica menos triste. Até porque o livro que você acabou de abrir, que aqui pode ser entendido como uma metáfora da vida, não é tão chato assim. Pelo contrario, é interessante. Você nem lembrava disso e se surpreende quando percebe que pode continuar ali por um tempão, mesmo se não vier outro ônibus.
E justo quando você está entretido com o livro, mesmo com chuva, solitário e sentado na calçada suja, um outro ônibus vem. Um ônibus que não vai para onde você estava querendo ir; um ônibus que vai para outro lugar, completamente diferente, mas não menos interessante. Sem você fazer sinal, ele pára, e bem à sua frente. Então você sobe e a vida segue. Até você puxar a cordinha e resolver que é hora de descer de novo.