quinta-feira, março 13, 2008

O homem inacabado

Costumava deixar tudo inacabado em sua vida. Projetos, livros, frases, pensamentos. Invariavelmente, começava com paixão, tesão, vontade de fazer tudo certo. Aos poucos é que surgiam os problemas, as dificuldades, e sobretudo, outras idéias. Então ele desistia de tudo o que já tinha feito e começava novamente, sempre pensando que daquela vez seria diferente.

Sua mesa vivia repleta de post-its com anotações de idéias que ele não tinha colocado em pratica, telefones de pessoas para quem ele deveria ter ligado, endereços de lugares que ele deveria ter ido. Sua vida era um amontoado de coisas que não ganharam vida. De projetos que não saíram do papel, de idéias que não chegaram nem mesmo a sair da caneta.

O pior é que ele tinha realmente muitas idéias. Talvez fosse isso que o atrapalhasse. Não tinha foco, se perdia no emaranhado de possibilidades que sua mente oferecia. Não conseguia tomar decisões, eleger prioridades. Em um dia, tudo era importante; no outro, ele nem se lembrava do que tinha pensado no dia anterior.

Quase sempre se perguntava porque alguma coisa não tinha dado certo. Quase nunca conseguia encontrar uma resposta. E assim continuava sua vida. Tentando começar cada dia como se fosse 1o de janeiro, com a ilusória esperança de que todos os seus erros e indefinições tivessem ficado pra trás com o ano que tinha terminado. Mas essa era só mais uma das idéias que ele não conseguiria concluir.