segunda-feira, maio 26, 2008

Pretinho básico

Terno preto. Gostava de homens de terno preto. Não importava se era chique, de marca italiana, se era tosco, feito por encomenda ou herdado do avô. Terno preto simplesmente a deixava babando.

Suas amigas achavam estranho. Lógico. Afinal, ela era arquiteta, ex-aluna do Santa Cruz, freqüentadora de barzinhos da Vila e de quiosques em Itamambuca. Como podia se sentir atraída por homens que usavam terno preto?

O pior é que ela nem ao menos cogitava conversar com quem não estivesse assim. Ou seja: só conversava com executivos. Até aí, tudo bem. Eles podem não ser as pessoas mais interessantes do mundo, mas, executivos que são, têm grana, são viajados, freqüentam lugares bacanas. O problema foi quando ela percebeu que além deles, outro tipo de gente usava terno preto: seguranças.

Começou então a ir pra todas as baladas da cidade. Só que não entrava. Ficava na porta, batendo papo com os seguranças, esperando suas amigas voltarem. Toda sexta e sábado. Conheceu vários “gatos”, ouviu várias histórias de policiais que estavam ali fazendo bico, descobriu vários esquemas para não pagar nada. Saiu com alguns, inclusive.

E com um deles, a história foi mais longe. Se encontraram várias vezes, foram ao shopping, cinema, barzinho, teatro e fizeram todos aqueles programas que os casais novos adoram fazer em começo de namoro. Não importava o programa, ele sempre ia de terno para agradá-la. Até que chegou o verão e surgiu a idéia de irem juntos pra praia, naquela casinha do tio dele na Praia Grande.

Foi o fim de tudo: ninguém agüenta fazer churrasco na piscina de terno e gravata.