quarta-feira, novembro 21, 2007

Dúvida

- Como era mesmo o nome dela?
- Ana.
- Ana?
- É, Ana, já falei.
- Ué, achei que fosse Bia.
- Não, Ana. Bia é a irmã.
- Irmã? Qual? Aquela loirinha que tava ao lado dela?
- É, essa mesmo. A loirinha.
- Ah.
- Mas porque a curiosidade, hein?
- Nada.
- Sei.
- É, tô falando. Nada. Só queria lembrar o nome dela. Ana. Bonito nome.
- Xiii, apaixonou, é?
- Magina.
- Pode falar, deu pra perceber.
- Tá.
- Tá o que?
- Apaixonei.
- Pela Ana?
- Não, pela Bia.
- Pela Bia? Como assim?
- Ê, anta. Lógico que foi pela Ana, pô. Você sabe, eu adoro loira.
- Ow, mas a loira é a Bia.
- É?
- É, pô. Cabei de explicar. Ana é a morena. Bia é a loira.
- Não era o contrário?
- Não, não era. Ó: Bia, loira. Ana, morena.
- Ah.
- E então?
- Então o que?
- Você tá apaixonado ou não?
- Hum, agora eu não sei. Fiquei na dúvida. Gostei do nome.
- Qual nome?
- Ana.
- Como assim “gostei do nome”? Desde quando você se apaixona assim por um nome? Você tem o que, 12 anos?
- Sei lá desde quando. Mas eu gostei desse. Ana.
- Cara, sem sacanagem: é um puta nome normal, que que cê viu de diferente nele?
- Ah, não sei, cara. Acho que esse nome tem um charme.
- Que charme?
- Um charme. Não sei explicar. Charme....é charme.
- Cara, Ana só não é mais comum que Maria. Ouve o que eu tô falando. Não tem nada de especial.
- Claro que tem. Vai, deixa de causar problema e me ajuda.
- Tá, tá bom. Que ajuda você quer?
- Pra escolher.
- Escolher o que, cara?
- Escolher entre as duas.
- Que duas? A Ana e a Bia?
- O que que a gente tava falando até agora, hein?
- Ê, calma lá, nervosinho. Só fiquei confuso com essas suas indas e vindas aí, meu.
- Ah, desculpa. É que eu tô muito na dúvida mesmo.
- Bom, mas você não gostou da Ana?
- Gostei. Do nome dela. Ana.
- Tá, isso eu já sei. Mas o que você gostou da outra?
- Da Bia? Ah, do cabelo. Ela é loira, você sabe...
- Você tá na dúvida entre um nome e um cabelo? É isso mesmo?
- Acho que é.
- Cara, você é doente.
- Eu sei. Mas e aí? Qual das duas eu escolho?
- A psiquiatra.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Final feliz

Ela era louca por ele. Louca pelas palavras, pelas atitudes, pelo cheiro, pelo jeito dele. Ele era apenas louco. Com direito a duas temporadas no hospício e tudo mais.

Ela nunca tinha sentido aquilo. Aquela vontade de ligar, de ver, de beijar, de abraçar, de dizer que não podia viver sem ele. Ele já tinha sentido aquilo. Não por uma mulher.

Ela contava os dias, as horas, os minutos, os segundos. Ele contava mentiras, principalmente quando se atrasava para um encontro.

Ela falava de filhos, netos, bisnetos. Ela falava da filha. Do vizinho. Uma menina de 16 anos que adorava se exibir depois do jantar.

Ela fazia planos, contas, academia, dieta, mão e unha. Ele fazia questão de não se importar com nada daquilo. Muito menos com o que sobrou da unha do seu dedão do pé.

Ela adorava flores, presentes, beijo na nuca, dormir de conchinha. Ele adorava o espelho.

Ela sofria, chorava, desesperava. Ele sorria.

Até que ela mudou, desistiu, esqueceu. E ele, cansado de ser do contra, fez o mesmo.