Auto-ajuda só atrapalha
Eu não quero me tornar um líder servidor. Eu não quero roubar o queijo de ninguém. Pra falar a verdade, eu nem gosto de queijo. Também não estou interessado nas técnicas de guerra do Sun Tzu. Não dou a mínima se vou ser um pai rico ou um pai pobre. Se eu conseguir ser um pai sem barriga, já tá valendo. A diferença entre o Monge e o Executivo? Não faço idéia. Qual é o Segredo? Afe, que coisa mais uó.
Mas é fato que essa febre de auto-ajuda tá pegando mais que dengue ultimamente. O que começou com simples palestras do mestre Layr Ribeiro, hoje é uma indústria que fatura bilhões por ano. E de um jeito muito simples: dando conselhos, dicas e falando de mais um monte de coisas óbvias.
O problema é que as pessoas acreditam nessa papagaida. “O melhor jeito de vencer um inimigo é conhecer a si mesmo”. Dã. Precisa mesmo ser general do exército chinês pra saber isso? Na boa, qualquer um que joga War I (o War II é muito complicado) sabe disso.
Só que as pessoas realmente acreditam nessas coisas. Percebendo isso, e também que um gordão com cara de corretor de imóveis (Layr Ribeiro) conseguia um relativo sucesso, outras pessoas partiram para explorar essa “área”. É por isso que hoje, em qualquer livraria, é mais fácil achar um livro de auto-ajuda do que um Dostoievsky.
Bom, mas livro é uma coisa muito analógica. Então o que eles resolveram fazer? Filmes de auto-ajuda. Isso mesmo. O Segredo, por exemplo. Auto-ajuda pura. E no cinema, rodeado de espectadores, é capaz que neguinho se sinta em uma seção de terapia coletiva. Aposto. Agora, como são os comentários de filmes de auto-ajuda? “Hum, adorei aquela cena em que ele fala que somos nós que fazemos nosso destino”.
Eu imagino aquelas pessoas que adoram decorar falas de cinema. Tem gente que sabe todas do Poderoso Chefão, do Matrix, do Exterminador do Futuro. Daqui pra frente, vai ter gente sabendo falas como “Não tente voar com as águias, se você está rodeado de perus” ou “As melhores coisas que você pode deixar para os seus filhos são raízes e asas”.
E os críticos de cinema de auto-ajuda? O que eles vão poder falar? “A atuação do narrador foi muito boa” ou “aquele cientista metafísico poderia ter sido menos piegas”.
Por falar nisso, por que raios as pessoas acreditam que metafísica tem a ver com auto-ajuda? Metafísica não é algo que você vai aprender assistindo a um filme. Vai ler Nietzche, Platão, alegoria das cavernas. Não é lendo O Segredo que você vai descobrir isso, camarada. O máximo que você vai descobrir lendo O Segredo, é que você perdeu duas horas da sua vida.
Mas o pior ainda está por vir. Depois dos livros, vieram os filmes de auto-ajuda. Então, qual o próximo passo? Obras de arte de auto-ajuda? Já vejo o Masp fazendo uma exposição com as obras mais famosas de Roberto Shiniashiky. Ou ainda um anúncio bem grande: Sun Tzu na Oca.
Na boa, auto-ajuda é que nem McDonalds: faz mal e todo mundo consegue viver sem.