A métrica de Alexandre Pires
Sabe quando você acorda com uma música na cabeça? Já reparou que é sempre música ruim? É a musiquinha do gás, aquele axé que fez sucesso em 92, o jingle de um candidato antigo de algum partido nanico com a sigla enorme, a música daquelas propagandas de cerveja. Hoje eu acordei assim, com uma dessas pragas na cabeça. Digo praga, porque não sai da cabeça nem a pau. Quanto mais você tente se livrar dela, mais ela fica grudada no fundo da sua cabeça. E sabe com qual eu fiquei o dia todo? A clássica do Só Pra Contrariar, ainda dos tempos em que o Alexandre Pires era mirrado, tinha bigodinho e cabelo ruim. Aquela que começa com os versos-mor do cafajeste brasileiro: “tou fazendo amor com outra pessoa, mas meu coração vai ser pra sempre seu...”. Bom, aí eu estava no banho e num espaço de tempo de menos de 15 minutos (acordar-café-olhada no caderno de esportes do jornal-olhada no horóscopo-3 coçadas no saco) eu já tinha cantado essa música umas 8 vezes. Tanto que até arranquei um sorriso da minha empregada. Sim, coisa fácil, ela morre de rir com o “Zorra Total”. Enfim, estava eu no banho e entre um e outro verso, comecei a lembrar que esta música é uma das que mais ficam na cabeça, apesar de ter sido uma composição feita há anos. Essa e aquelas músicas que vêm naqueles cds que são anunciados nos intervalos da antena parabólica, tipo aquele Festa Pronta, da Globo. Pérolas como o refrão mela-cueca “ah ah ah ah ah ah ah, I know this much is true”, de uma obscura banda chamada Spandau Ballet. Ou ainda Smooth Operator, da Sade, ou “bandido, bandiiiiiiido corazón”, que o Ney Matogrosso cantava. Voltando, me peguei analisando a métrica, a melodia, tentando entender ou pelo menos conseguir algumas pistas para desvendar o chicletismo de certas músicas. No caso específico, da “fica dentro do meu peito sempre uma saudaaaade...”. E não é que ela tem uma métrica diferente para os padrões do pagode brasileiro? Lembrando de minhas aulas de literatura onde tinha que fazer chatérrimas análises dos versos dos episódios “O velho do restelo” e”Inês de Castro”, percebi que Alexandre Pires e seu irmão (quem sabe o nome do irmão do Alexandre Pires?) criaram uma seqüência quase camoniana. Sim, um abc abc abc abc abc para depois desaguar num refrão ab ab. Resumindo: que merda que eu ando fazendo com meu tempo livre, não?