quinta-feira, outubro 30, 2008

A métrica de Alexandre Pires

Sabe quando você acorda com uma música na cabeça? Já reparou que é sempre música ruim? É a musiquinha do gás, aquele axé que fez sucesso em 92, o jingle de um candidato antigo de algum partido nanico com a sigla enorme, a música daquelas propagandas de cerveja. Hoje eu acordei assim, com uma dessas pragas na cabeça. Digo praga, porque não sai da cabeça nem a pau. Quanto mais você tente se livrar dela, mais ela fica grudada no fundo da sua cabeça. E sabe com qual eu fiquei o dia todo? A clássica do Só Pra Contrariar, ainda dos tempos em que o Alexandre Pires era mirrado, tinha bigodinho e cabelo ruim. Aquela que começa com os versos-mor do cafajeste brasileiro: “tou fazendo amor com outra pessoa, mas meu coração vai ser pra sempre seu...”. Bom, aí eu estava no banho e num espaço de tempo de menos de 15 minutos (acordar-café-olhada no caderno de esportes do jornal-olhada no horóscopo-3 coçadas no saco) eu já tinha cantado essa música umas 8 vezes. Tanto que até arranquei um sorriso da minha empregada. Sim, coisa fácil, ela morre de rir com o “Zorra Total”. Enfim, estava eu no banho e entre um e outro verso, comecei a lembrar que esta música é uma das que mais ficam na cabeça, apesar de ter sido uma composição feita há anos. Essa e aquelas músicas que vêm naqueles cds que são anunciados nos intervalos da antena parabólica, tipo aquele Festa Pronta, da Globo. Pérolas como o refrão mela-cueca “ah ah ah ah ah ah ah, I know this much is true”, de uma obscura banda chamada Spandau Ballet. Ou ainda Smooth Operator, da Sade, ou “bandido, bandiiiiiiido corazón”, que o Ney Matogrosso cantava. Voltando, me peguei analisando a métrica, a melodia, tentando entender ou pelo menos conseguir algumas pistas para desvendar o chicletismo de certas músicas. No caso específico, da “fica dentro do meu peito sempre uma saudaaaade...”. E não é que ela tem uma métrica diferente para os padrões do pagode brasileiro? Lembrando de minhas aulas de literatura onde tinha que fazer chatérrimas análises dos versos dos episódios “O velho do restelo” e”Inês de Castro”, percebi que Alexandre Pires e seu irmão (quem sabe o nome do irmão do Alexandre Pires?) criaram uma seqüência quase camoniana. Sim, um abc abc abc abc abc para depois desaguar num refrão ab ab. Resumindo: que merda que eu ando fazendo com meu tempo livre, não?

quinta-feira, outubro 09, 2008

Eu não era ele

Eu não era ele. Era por este simples motivo que ela gostava tanto de mim: eu não era ele.

Eu tinha sim meus predicados. Mandava flores, fazia elogios, abria a porta do carro (apenas em dias chuvosos, mas abria), nunca reclamava quando ela se atrasava. Achava que ela gostava de mim por eu ser quem eu era, por fazer as coisas que fazia, por gostar das coisa que gosto.

Um dia, depois de uma discussão ríspida sobre algum assunto que nem lembro mais, percebi que estava enganado. Eu podia ser chato, dizer que ela tinha engordado, dormir de barriga pra cima, cortar a unha do pé na sala, criticar os pais dela. Eu podia fazer tudo o que eu quisesse, desde que não fosse ele. Ela gostava de mim porque eu não era ele.

Não ser ele era muito fácil pra mim. Afinal, eu não era. E eu adorava isso. Por mais que eu me esforçasse para errar, para mostrar que eu também tinha falhas, e muitas, isso não importava. Não sendo ele, eu podia ser qualquer outra pessoa. Podia ser a pior pessoa do mundo. Quer dizer, a pior pessoa do mundo eu não poderia ser. A pior pessoa do mundo, ao menos pra ela, era ele.

Minha surpresa foi quando descobri que eu era exatamente igual a ele. Mesma altura, mesmo corte de cabelo, até a mesma pança de ex-atleta da faculdade que hoje não conseguia conciliar trabalho com academia. Quase irmão gêmeos, não fosse pela covinha que eu tinha e ele não. Se bem que a ausência de uma covinha não é algo que faça uma pessoa parecer menos ou mais com você.

E se fisicamente a semelhança era incrível, nos outros aspectos ela era ainda maior. Mesmo gosto por músicas do Elvis, mesmo gosto por jaquetas “de pai”, mesmo time, mesma paixão por cerveja com torresminho, mesmo exagero no ciúme, mesma cara lavada para mentir sobre qualquer assunto e nunca ser descoberto. Mesma falha de caráter de trair e não se sentir traindo (ok, essa é uma característica comum a maioria dos homens, ao menos aos homens que freqüentam o mesmo bar que eu freqüento).

Eu era igual a ele. Mas não era ele. E isso bastava.

quinta-feira, outubro 02, 2008

Groselhas sobre Paris

Todos os franceses parecem gays. Todas as francesas parecem lésbicas. E todas as crianças parecem o "pequeno príncipe".

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É impressionante como os franceses adoram caminhar pela rua com uma baguete. Ao mesmo tempo, é impressionante como eles adoram não tomar banho. Acho mais fácil encontrar uma baguete embaixo do braço de um francês do que um desodorante. Taí uma idéia: uma baguete sabor "aloe vera". Ia vender mais que croissant.

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Levem um susto outro dia. Num museu, a seguinte frase: esta exposição foi feita com o soutien da Samsung. Como assim? Só depois descobri que, em frances, soutien quer dizer apoio. Ufa.

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Num país onde o vinho é tão barato e tão consumido, é correto chamar um bêbado de pinguço? Vinhuço não seria um termo melhor?

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Como esperar que os franceses sejam cheirosos se o perfume deles se chama Coco?