quinta-feira, outubro 09, 2008

Eu não era ele

Eu não era ele. Era por este simples motivo que ela gostava tanto de mim: eu não era ele.

Eu tinha sim meus predicados. Mandava flores, fazia elogios, abria a porta do carro (apenas em dias chuvosos, mas abria), nunca reclamava quando ela se atrasava. Achava que ela gostava de mim por eu ser quem eu era, por fazer as coisas que fazia, por gostar das coisa que gosto.

Um dia, depois de uma discussão ríspida sobre algum assunto que nem lembro mais, percebi que estava enganado. Eu podia ser chato, dizer que ela tinha engordado, dormir de barriga pra cima, cortar a unha do pé na sala, criticar os pais dela. Eu podia fazer tudo o que eu quisesse, desde que não fosse ele. Ela gostava de mim porque eu não era ele.

Não ser ele era muito fácil pra mim. Afinal, eu não era. E eu adorava isso. Por mais que eu me esforçasse para errar, para mostrar que eu também tinha falhas, e muitas, isso não importava. Não sendo ele, eu podia ser qualquer outra pessoa. Podia ser a pior pessoa do mundo. Quer dizer, a pior pessoa do mundo eu não poderia ser. A pior pessoa do mundo, ao menos pra ela, era ele.

Minha surpresa foi quando descobri que eu era exatamente igual a ele. Mesma altura, mesmo corte de cabelo, até a mesma pança de ex-atleta da faculdade que hoje não conseguia conciliar trabalho com academia. Quase irmão gêmeos, não fosse pela covinha que eu tinha e ele não. Se bem que a ausência de uma covinha não é algo que faça uma pessoa parecer menos ou mais com você.

E se fisicamente a semelhança era incrível, nos outros aspectos ela era ainda maior. Mesmo gosto por músicas do Elvis, mesmo gosto por jaquetas “de pai”, mesmo time, mesma paixão por cerveja com torresminho, mesmo exagero no ciúme, mesma cara lavada para mentir sobre qualquer assunto e nunca ser descoberto. Mesma falha de caráter de trair e não se sentir traindo (ok, essa é uma característica comum a maioria dos homens, ao menos aos homens que freqüentam o mesmo bar que eu freqüento).

Eu era igual a ele. Mas não era ele. E isso bastava.

1 Comments:

At 18:12, Anonymous Anónimo said...

Você sou eu?

 

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