segunda-feira, novembro 24, 2008

Levando

Quando você demora mais de cinco minutos para vestir a meia de manhã, alguma coisa está errada, pensou ele, enquanto tentava passar entre uma senhora que há tempos não sabia o que era banho e um senhor, que se sabia o que era banho, há tempos não lembrava pra que ele servia.

Sete da manhã e ele lá, naquele ônibus cheio, pensando no seus excesso de problemas e na sua falta de soluções. Ou perspectivas, como diria aquele cara que falava de economia na rádio que ele escutava religiosamente das 7 às 9h, enquanto estava no 6417-C.

As noites bem dormidas, os dias felizes, os feriados que pareciam não acabar: tudo isso era passado. Um passado tão distante quanto aquele trampo que ele tinha arranjado. Quase 2 horas sacolejando tal qual uma dançarina de funk no movimento Créu velocidade 4. Todo dia.

Pensava no futuro, lembrava do passado, esquecia do presente. Afinal, aquilo não era presente. Nem em inimigo secreto dava pra receber um presente tão ruim quanto aquele.

Mas ele ia levando. Porrada, bronca, rasteira. Mas ia levando. E assim foi até o final, quando atravessou bem em frente do seu tradicional 6417-C.

segunda-feira, novembro 10, 2008

O amor nos tempos da dengue

Ah, esse seu sorriso sem dentes! Como eu adoro. Ainda mais quando você está com um verdinho entre os poucos dentes da frente que ainda não foram tomados pela cárie.

Ah, se você soubesse o quanto eu adoro o jeito que você diz “tóxico”, pronunciando o “x” como só você sabe. Engraçado que “sexo” você pronuncia de outro jeito. Mas eu relevo.

E quando você me ouve falar “I love you” e responde “só você mesmo pra saber francês”? Adoroooo.

Amo o seu jeito de falar todos os verbos no gerúndio e com o “d” mudo. Usano, comprano, vendeno, falano. Ah, meu Paulo Coelho de saias.

Sem falar naquela palitada nos dentes (com a mão na frente deles, pra disfarçar) que você dá quando acabamos de comer em algum restaurante. Que charme. Que linda. Que deusa.

E quando você volta de um fim de semana em Praia Grande, cheia de coceira no pé por causa de algum bicho geográfico? Hum, você coçando o seu pé é algo que me encanta. Uma cena mágica.

Gosto também do seu cheiro, aquela mistura de Speed Stick com sabonete Albany. Fica uma coisa rústica, um cheiro de cidade de interior de Minas na quarta-feira de carnaval. Me lembra meus tempos de infância, quando voltávamos da aula de educação física sem banho para mais uma aula inteira de matemática.

Só fico com raiva quando você passa em frente à obra justo na hora em que estou lá em cima no andaime. Ah, safada.