quarta-feira, dezembro 05, 2007

Aquela mulher

Eu já estava bem acomodado no fundo do restaurante quando aquela mulher entrou. Mesmo com o garçom na minha frente, oferecendo aquele couvert delicioso, que eu nunca recuso, não tive como não perceber sua chegada.

Ela entrou devagar, segura de si, como se estivesse em casa. Nem olhou pros lados. Até a hostess, com a qual eu tinha trocado olhares minutos antes, ficou desconcertada com sua presença. De uma hora para outra, parecia que o lugar tinha uma dona.

Delicadamente, tirei o garçom da minha frente e coloquei um pão de queijo na boca. Sem manteiga. Aliás, nem notei que tinha esquecido a manteiga, tamanha era minha falta de atenção. Aquela mulher simplesmente me hipnotizava. Tanto que eu até esqueci da perfumada alcachofra, uma das minhas iguarias preferida, e coloquei outro pão de queijo na boca. Sem manteiga, mais uma vez.

E ela continuou. Olhou pra frente, levantou a cabeça, examinou o ambiente. Uma leve arrumada no vestido, justo na hora em que eu mastigava, me fez engasgar. Mas não tossi. Não queria estragar o momento. Engoli a seco e nem pedi um copo de água ao garçom, temendo que ele ficasse novamente tapando minha visão.

Aquele olhar, aquele corpo, aquele jeito. Não era nova, tinha praticamente a minha idade. Era linda, apenas isso. Não fosse o perfume das alcachofras, aposto que já teria sentido o perfume dela, que, aposto, só me deixaria mais encantado. Jurei nunca mais pedir couvert com alcachofras.

O salão estava ficando pequeno, eu não conseguia me mexer. Estava louco, suando, sentindo o calor de Cuiabá ao meio dia, muito embora já passasse das 23h em um dia frio de São Paulo. Nem sei como consegui pensar numa analogia dessas, numa hora dessas. Esbarrei na faca de peixe, derrubei o pratinho de azeite com sal que estava incluso no couvert. Que raios uma faca de peixe estava fazendo ali, se eu nem ainda tinha feito meu pedido?

Atordoado, com o azeite no meu colo, nem notei que ela se aproximava. A cada passada, ela ficava mais linda e sedutora. E eu, mais bobo e descontrolado. Só sentia o azeite entrando no tecido da minha camisa e meu coração saindo do meu peito. Azeite extra-virgem mancha?

Ela então parou na minha frente, e, inesperadamente, sorriu. Eu, sem saber o que fazer, levantei, e antes que pudesse falar qualquer coisa, ela me deu, pasmem, um beijo. Tremi por um segundo, até que ela começou a falar e eu finalmente entendi tudo o que estava sentindo.

- Oi, amor, feliz aniversário. Demorei muito?

9 Comments:

At 16:10, Blogger Maurício Meirelles said...

Fiz aniversário há 10 dias e não ganhei beijo nem da minha mãe. O que fiz de errado?

 
At 16:12, Blogger semudei said...

Você não é ficção.

 
At 18:03, Anonymous Anónimo said...

Preferia o título anterior ... fazia mais jus ao texto. Ótimo por sinal.

 
At 20:44, Anonymous Anónimo said...

Não sabia que tinham textos de ficção aqui. Muito bom!

 
At 19:57, Blogger Unknown said...

O melhor texto seu q eu já li. Sério mesmo. Parabéns, princeseiro!

 
At 20:13, Anonymous Anónimo said...

Não sei se é pq num faz analogias com futebol.. mas amei! Parabéns Lui!

 
At 20:13, Anonymous Anónimo said...

Não sei se é pq num faz analogias com futebol.. mas amei! Parabéns Lui!

 
At 11:31, Anonymous Anónimo said...

Ae Lui, legal pacas! Só faltou analogias com futebol.

 
At 20:17, Blogger Unknown said...

adoro seus textos de mistérios, mas juro que pensei que a bonitona seria um traveco hahaha

 

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