Tirei o ciso
Tirei o ciso. Na verdade, foram dois, os do lado esquerdo. Achei que fosse doer pra cacete, confesso. Talvez por isso, fiquei tão feliz quando descobri que seria uma mulher que faria a operação. Pensei comigo: “Mulher é frágil, meiga, sensível. A não ser que ela esteja de Tpm, vai correr tudo bem, não vou sentir nenhuma dorzinha”. Rá, como diria o Serginho Mallandro. É, eu entro no consultório e todas as minhas previsões vêm abaixo. A dentista é mulher, mas tem mais de 1,80 de altura, ex-jogadora de basquete ou vôlei. Haja coração, amigo!
Ela falava: “Vou apertar um pouquinho”. Eu pensava: “Só agora que você vai apertar? Fudeu”. Bom, sem exagerar muito, a operação foi rápida pra cacete. Em menos de uma hora lá estava eu, não conseguindo falar direito, com o lábio dormente, quase igual ao da Margie Simpson. Tirando a dorzinha inicial, tudo correu bem. Quase tudo, pra ser sincero. Teve uma coisa que me incomodou muito, muito mesmo. A luva da dentista. O motivo? Ela é feita de látex, mesmo material usado na fabricação de camisinhas. E ela enfiava a mão na minha boca de 2 em 2 segundos. Não que eu já tenha colocado uma camisinha na boca, mas, né, com o perdão do trocadalho, eu sei o cheiro que aquela porra tem. Enfim, com aquele cheiro de camisinha na boca, eu sentia que estava fazendo um boquete. Foda. Literalmente.
Fim da cirurgia, volto pra casa. Sorvete e só coisas líquidas por uns 3 dias. Nada de movimentação, nada de falar demais. Só esqueci de falar uma coisa. Eu tirei os cisos ontem, 23 de junho, dia do jogo do Brasil. Não tinha me tocado quando marquei a data. Bom, paciência, tive que ver o jogo sem poder falar. Sem poder gritar. Sem poder sair de casa pra encher a lata com os amigos em algum bar da moda que comprou tv de plasma especialmente pra Copa. Achei que ia ser sussa. Brasil x Japão, jogo fácil, no mínimo uma goleada.
Tinha me esquecido que jogo do Brasil é sempre jogo do Brasil. Você sempre vai querer gritar, você sempre vai querer xingar o Lúcio, você sempre vai pedir o Robinho no segundo tempo. Minha sorte é que o Parreira não dificultou as coisas dessa vez, e saiu jogando com um puta time. Só não tirou o Lúcio, mas, também, pra colocar o Cris no lugar, melhor deixar do jeito que tá. Mesmo assim, foi foda me conter. Depois de 20 minutos de jogo, o Brasil tinha dado uns 5 chutes no gol. A cada lance, sem poder gritar, eu levantava os braços, chutava a cadeira, só não abria a boca. Até que o Japão fez o gol. Na costas de quem? Do Lúcio, amigo, do Lúcio. E eu com a boca fechada. Sorte do Lúcio, senão ele teria ouvido várias.
Ainda bem que o Ronaldo Bolota fez o dele antes do intervalo. Enquanto todo mundo pula gritando gol, lá estou eu, comemorando como se fosse surdo-mudo balançando as mãos. Me senti um completo autista. Todo mundo comentando sobre o jogo e eu quietinho. Quando tentava falar alguma coisa, as pessoas perguntavam: “O que foi? O que foi que você disse? Quer uma água? Quer ir no banheiro?”.
Não, o que eu queria mesmo é que mudassem de canal, só isso. Ou que o Galvão resolvesse tirar o ciso em dia de jogo do Brasil.
3 Comments:
Muito bom!
Ah, então aquelas balas que você guardava no canto da boca eram os dentes do ciso... Ah tá...
Coloque embaixo do travesseiro, diz q uma fada vem e te dá dinheiro.
Diz tb que, se vc tirar todos os 32 dentes e colocar debaixo do travesseiro, ela promete que o Lúcio nunca mais puxa contra ataque.
Enviar um comentário
<< Home