segunda-feira, junho 08, 2009

Eu?

Era para ser uma simples entrevista de emprego. Ok, simples é exagero. Afinal, no meio dessa crise, está longe de ser simples arranjar uma entrevista de emprego.

O que eu quis dizer é que se tratava de um papo com o RH sobre minhas aptidões, meu passado, minhas habilidades e todas aquelas mentiras que os homens e as mulheres contam e que, se alguém se desse ao trabalho de checar, perceberia que aquela “experiência internacional”, na verdade era o mochilão que fiz quando estava em dúvida entre ser astronauta ou dentista.

Enfim.

Depois de repetir tudo aquilo que estava escrito no currículo que eu enviei por email (se ela pediu para mandar por email, por que não leu?), ela fez uma pergunta besta, como todas as outras anteriores. Quem eu era?

Foi aí que comecei a refletir. Pensei em dizer: sou publicitário, formado há 3 anos, tenho inglês fluente e blá e blá e blá blá. Me dei conta que isso era apenas o resumo do meu currículo, e não o resumo de quem eu era exatamente. Minha vida, felizmente, ultrapassava os limites de meu currículo.

Tá. Já sabia o que evitaria dizer. Faltava saber o que responder. Pensei nas frases que as pessoas usam no “about me” do orkut: pedaços de letras de música em inglês, citações de poetas ou pessoas mortas, mantras de autoajuda, piadinhas. Nada disso seria útil naquele momento. Pensei nas palavras de meu pai, quando comuniquei que largaria a faculdade para passar um tempo surfando: vagabundo! É, isso também não seria útil.

Pensei nos meus sonhos, nos de criança aos atuais, mas cheguei à conclusão que ali estava um retrato de quem eu queria ser, e não de quem eu era. E o abismo entre essas duas situações era considerável a ponto de ser chamado assim mesmo de abismo, sem exageros.

Pensei em mais coisas, em mais frases, em sentimentos, em fatos. Nada. A mulher do RH olhava com uma cara feia, esperando por uma resposta que pudesse se enquadrar no “padrão da empresa”.

Respondi então que eu era o reflexo de todas as coisas que já tinha vivido e sentido. Ela ficou confusa. E eu vi que aquele emprego não era pra mim.

4 Comments:

At 01:34, Anonymous pitadascotidianas.blogspot.com said...

Navegando, parei aqui. Antes de mas nada, não tenho pretensões, mas concordo com o texto abaixo. Marionetes, pobres marionetes...rs.
Muito bom esse post. Talvez você não seja exatamente um reflexo, mas um relexão dos seus viveres e sentires. Boa sorte e que as ondas ti carreguem para um emprego bacana!

 
At 09:37, Blogger GuTanaka said...

Excelente!! Parabéns!!

 
At 21:56, Anonymous Anónimo said...

A Miroca que indicou seu blog.Entrevistas de emprego e as lógicas - se é que existem - dos entrevistadores de RH, sempre provocam-me verdadeiras crises existenciais.Pior que isto, só mesmo ter que bancar a simpática, a inteligente, a comunicativa em Dinâmicas de Grupo...Blá.Dá vontade de dizer para eles: A verdade está lá fora...

 
At 19:52, Blogger Unknown said...

LOOOOOOOOOOL desculpa entrar assim. mas adorei "Não dou a mínima pra sua opinião, a não ser que você seja minha mãe."

LOL muito bem... lool
Agora so te digo uma coisa e confortavel que no teu emprego nao saibas mesmo quem és. convem que exista uma distancia enorme entre TRABLHO E LAZER. Aqui em portugal á uma tendencia enorme para te julgarem pelo o que és fora do emprego... E acredita È muito mau. Mesmo.

ABC

 

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