terça-feira, novembro 14, 2006

A importância da régua

Quando você viaja sozinho é que dá importância aos detalhes. Exemplo: no primeiro dia em Londres (tá bom, foi no terceiro. Tava querendo dramatizar mais a coisa, só isso) eu perdi minha saboneteira. Nunca tinha dado muito valor a saboneteira, e continuo não dando, mas ela fez muita falta, de verdade. Não comprei outra, pois: 1 – sou pão duro assumido; 2 – tenta pedir uma saboneteira em inglês, só tenta. Soap-what?

Outra coisa que fez muita falta na minha viagem foi uma régua. Sem sacanagem. Não comprei uma, pois acho que régua é uma coisa que não se compra. É que nem cachorro. Ou você ganha (tudo bem, ganhar uma régua não é tão legal quanto ganhar um cachorro) ou você acha. Imagina eu anotando no meu caderno de despesas que comprei uma régua. E com esse euro caro pra dedéu, não bateu a mínima vontade de pagar R$ 4,00 por um pedacinho de 30 cm de plastic.

Agora, percebi que a régua tem um valor inestimável, insofismável, quiçá. Ela é quase um Bombril, um Gustavo Nery na época do São Paulo, pode exercer várias funções. Primeiro, pra quem não faz ioga ou pilates ou algum RPG (não o jogo) da vida, elasticidade não é uma coisa muito fácil de se conseguir. Eu jogo bola desde pequeno e até hoje não consigo colocar a mão sem dobrar a perna, manja? Cabe aqui dizer que elasticidade pode ser entendida como a capacidade de coçar as costas sem a ajuda de ninguém. E pra todas essas pessoas que não têm elasticidade, nada melhor que uma régua pra dar aquela força. Já tentei caneta Bic com e sem tampa, caderno, colunas greco-romanas, mas nenhuma dessas opções superou a boa e velha régua, com suas inigualáveis quatro pontas e sua superfície quase cortante, que pode até arranhar, deixando aquela marquinha branca na pele, mas alivia a coceira na hora, pode apostar.

Segunda função da régua: quando bate aquela fominha, no meio da noite ou no meio de uma viagem de trem, ou em algum momento que não haja outra opção, a régua, ela mesma, serve como faca. Não dá pra cortar carne, batata ou cebola, mas pra cortar um bolinho ou um muffin, ela vai muito bem. Melhor ainda se você tiver uma daquelas manteguinhas, geléinhas, melzinhos, ou outro acompanhamento que você por acaso roubou do café da manhã do albergue. Dá pra usar a régua pra passar isso no pão, pq não?

A terceira função da régua é a de sempre, nenhuma. Ela fica jogada em algum canto, até o dia que você precisa dela(pra coçar as costas ou cortar o bolo) e não tem a mínima idéia de onde ela possa estar.

Certeza que na minha próxima viagem, vou colocar a régua na minha lista. Não ocupa quase nada de espaço e garanto que é bem mais útil do que aqueles guias de viagem que nem sequer indicam onde tem uma lojinha na qual você possa comprar uma régua.