No país da leitura
Trabalhava na livraria há 2 anos. Desde que aquela filial foi aberta. Era faxineira. Passava o dia todo limpando livros. Um por um. Uma espanada rápida sobre a capa, às vezes um paninho úmido, nada mais do que isso. Os que ficavam em destaque mereciam um pouco mais de atenção. Ordens do chefe. Ela tirava um por um com calma, espanava a capa, abria, espanava a primeira página, arrumava as etiquetas de preço que teimavam em cair, e colocava novamente no seu lugar. Sabia de cor onde ficava cada um. De romances até os de auto-ajuda. Mas se alguém perguntasse onde ficava algum deles, ela não responderia, por vergonha mesmo. Nunca tinha lido um livro na vida.
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Todo dia depois da aula era a mesma coisa. Ia correndo para o ponto, pois o ônibus que pegava só passava uma vez por hora. E ele definitivamente não gostava de esperar. Ônibus sempre cheio, trânsito sempre complicado, cobrador sempre sem troco. Pulava a catraca de vez em quando, mas não exagerava. Descia sempre dois pontos antes de casa, pra dar uma espiadinha nas novidades da livraria. Na hora do almoço, ela sempre estava fazia. Entrava, olhava lentamente pra cada prateleira, até achar alguma coisa interessante. Sentava na cadeira, e sem a mínima cerimônia, lia um livro. Quando tinha tempo, lia capítulos inteiros. Se não gostava do livro, largava ali mesmo, com a leitura pela metade. Gostava dos autores ingleses, que abusavam da ironia. Os russos também eram bons, mas como ninguém lia, quase nunca tinha novidade. Evitava Paulo Coelho, pra não “baixar o nível”. Quando não tinha nenhum segurança por perto, tirava os livros do Dan Brown da prateleira, pra ninguém poder encontrar. Achava que poderia mudar o mundo desse jeito.
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Desculpa de quem não gosta de ler jornal: suja a mão. Oras, pra isso há solução. É só lavar as mãos depois que acabar de ler. Aposto que uma água com sabão resolve. Agora, e o cérebro, como é que fica?
2 Comments:
Olha só o andino migrando pro lado Veríssimo da coisa.
Bem bacana!
Vê se dá notícia, viadinho.
Abraço
Como eu sei que você quase não vê orkut, deixo o recado aqui.
Parabéns rapaiz! Muitas felicidades, joguinhos de futebol, lhamas e que você seja chamado pra uma iniciar uma carreira meteórica na McGyver comunicação quando voltar das Europa.
Abraço
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