Com certeza era silicone
Se encontraram por acaso, ali na fila do banco. Fazia quanto tempo mesmo? Uns 15 anos, talvez mais, pensou o Jota. Mas se reconheceram fácil. Sabe como é, paixão de sétima série marca.
O Jota tava engravatado, engomadinho, uma graça, pensou a Vera. A Vera, na verdade Verinha, a menina mais cobiçada do Dante Alighieri (era a única que não usava shorts por debaixo da saia), tava linda. Cons uns 15 anos e um pouquinho de peito a mais, reparou o Jota. Silicone, silicone, ele concluiu.
Na hora, trocaram poucas palavras. O Jota só lembrava que ela tinha ido embora da cidade por causa do pai, que era militar ou diplomata, ele não tinha certeza. Tinha ido pro interior. Ou era pro exterior? É, ele definitivamente tava com a memória ruim, coitado.
Papo vai, papo vem, o Jota tá de cueca, acordando. Olhou pro lado, a Verinha dormindo, peladinha, de barriga pra cima. Só podia ser silicone. Procurou o relógio, quatro e meia. Quatro e meia? Desesperou. Pensou na desculpa que ia ter que dá pro chefe, pensou na mulher, que já devia tá louca atrás dele, só não pensou nos filhos, porque graças a deus não tinha. Senão seria pior. Desesperou mais ainda. Perder emprego e mulher de uma vez, assim junto, ia ser o fim. Calma, Jota, calma, falou pra si mesmo, sem se convencer. Primeira coisa: o celular, cadê? Ali, na cabeceira. Imaginou dez chamadas não atendidas, nem queria olhar. Tava lascado. A mulher já devia ter colocado alguém atrás dele, o chefe já devia ter colocado alguém no lugar dele. Quatro e meia. Como ele foi acordar tão tarde?
No carro, ainda colocando o cinto (o da calça), tomou coragem e enfrentou o celular. Estranhou. Nada. Nenhuma chamada. Não tinham notado a falta dele. No escritório, tudo bem, ele sentava meio escondido. Mas, e a mulher? Ciumenta que só, devia ter ligado pra polícia, pros amigos dele, nessa hora o bairro todo devia estar sabendo. Estranho.
Chegando na firma, tudo fechado. Mais estranho ainda. Ficou mudo por um tempo. “Puta que pariu!”. Tinha se esquecido, era sábado. Ficou feliz, mas só por 2 segundos. Se era sábado, como ele tinha encontrado a Verinha na fila do banco? E mesmo sendo sábado, como a mulher dele não tinha ligado?
Ainda estava pensando nisso, quando acordou. Ufa. Tinha sonhado tudo aquilo. Nada de Verinha, nada de motel, nada. Foi só um sonho. Olhou pro lado, cama vazia, sua mulher já tinha levantado pra fazer o café. Aí, não teve dúvida: fechou os olhos de novo pra ver se ainda conseguia pegar a Verinha dormindo. Com certeza era silicone.
3 Comments:
Boa Lui!
História real?
Nada. Eu não sou casado.
E nem tenho emprego.
Boa, boa, menino...
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