sexta-feira, dezembro 15, 2006

Pelé

Desde pequeno, seu negócio sempre foi jogar futebol. No recreio, nos intervalos, na hora da saída. Qualquer brechinha era desculpa pra bater uma bola. Logo, ganhou o apelido de Maradona. Sim, era bom de bola e canhoto, mas o apelido era muito mais por causa da sua forma física: gordinho e baixinho.

Na época do estirão, lá pelos 12, 13 anos, virou Gérson. Mais alto e mais magro, fazia ótimos lançamentos e deixava os amiguinhos na cara do gol. Só que, no fundo, o apelido surgiu por outro motivo: tinha sido um dos primeiros da turma a começar a fumar.

Quando acabou o colégio, queria por que queria virar jogador. Até passou na faculdade, mas seu negócio não era esse. O pai, ameaçando dar uma tunda, fez ele mudar de idéia rapidinho. Teve que se contentar com as peladas do time da faculdade. Lá, ele era mais conhecido como Fenômeno. Porque, além de ser disparado o matador do time, viu, com festas e cervejadas a rodo, sua barriga crescer de forma assustadora.

Depois que ele foi fazer uma pós em Londres, nunca mais nos vimos. Até a semana passada, quando nos trombamos no shopping. Agora ele tá casado, dois filhos, acabou de comprar um apartamento ali em Perdizes. Lembrei da história dos apelidos e na hora ele corou com minha pergunta. Insisti tanto que ele abriu o jogo. A mulher chamava ele de Pelé.

“Pô, quer dizer que você continua jogando um bolão?”
“Quem dera.”
“Então de onde vem esse apelido?”

E ele, triste, quase mudo, respondeu.

“Viagra, amigo, Viagra.”