Eu também te amo
Estavam juntos há muito tempo. Continuavam apaixonados, é verdade. Mas a monotonia e a rotina, sempre ela, começavam a dar o ritmo pra relação. O primeiro sinal disso foi percebido com o que aconteceu com o simples “eu te amo”. Depois de mais de 20 anos juntos, eles tinham enjoado de repetir isso tantas vezes ao dia. No começo, lá em 1983, era “eu te amo” pra lá, “eu te amo” pra cá. Uma coisa até chata. Aí, foi murchando, murchando, e eles começaram a inventar variações. Assim: “Cris, mais que te amo, tá?” E ela respondia: “Eu também mais que te amo, Pê.”
E assim foi indo. “Cris, você sabe, né?” Ela: “Claro que sei, Pê. Eu também.”
“Cris, já te falei aquilo hoje?”
“Não. Eu também não te falei, né?”
“Hum, então agora tá falado.”
“Ah, eu também, Pê.”
Até que, sem eles se darem conta, o fundo do poço chegou.
“Cris?”
“Que?”
“Aquilo.”
“Eu também.”
Então eles se olharam, a Cris levantou, e 10 minutos depois ela já estava com sua mala dentro do táxi, indo pra casa da mãe. Chegando lá, antes que sua mãe perguntasse, ela foi logo dizendo, meio resignada.
“Eu e o Pê brigamos.”
“Por que, minha filha?”
Ela pensou um pouco, mas não teve dúvida. Sem tirar os olhos da mãe, respondeu:
“Aquilo.”