domingo, janeiro 28, 2007

Eu também te amo

Estavam juntos há muito tempo. Continuavam apaixonados, é verdade. Mas a monotonia e a rotina, sempre ela, começavam a dar o ritmo pra relação. O primeiro sinal disso foi percebido com o que aconteceu com o simples “eu te amo”. Depois de mais de 20 anos juntos, eles tinham enjoado de repetir isso tantas vezes ao dia. No começo, lá em 1983, era “eu te amo” pra lá, “eu te amo” pra cá. Uma coisa até chata. Aí, foi murchando, murchando, e eles começaram a inventar variações. Assim: “Cris, mais que te amo, tá?” E ela respondia: “Eu também mais que te amo, Pê.”

E assim foi indo. “Cris, você sabe, né?” Ela: “Claro que sei, Pê. Eu também.”

“Cris, já te falei aquilo hoje?”
“Não. Eu também não te falei, né?”
“Hum, então agora tá falado.”
“Ah, eu também, Pê.”

Até que, sem eles se darem conta, o fundo do poço chegou.

“Cris?”
“Que?”
“Aquilo.”
“Eu também.”

Então eles se olharam, a Cris levantou, e 10 minutos depois ela já estava com sua mala dentro do táxi, indo pra casa da mãe. Chegando lá, antes que sua mãe perguntasse, ela foi logo dizendo, meio resignada.

“Eu e o Pê brigamos.”
“Por que, minha filha?”

Ela pensou um pouco, mas não teve dúvida. Sem tirar os olhos da mãe, respondeu:

“Aquilo.”

domingo, janeiro 14, 2007

Só 3 quilinhos

Eram só três quilinhos a mais. Coisa pouca, bobagem. Se fosse mulher, vá lá, nunca vi uma gostosa que não se achasse gorda. Mas o Luís Paulo não era mulher. Muito menos gostosa. E tinha inventado essa moda: queria se internar num spa.

Os amigos, tirando o Jorge, que depois daquele mês em Londres nunca mais foi o mesmo, falaram um monte. Que spa era coisa de biba, que ele ia jogar dinheiro fora, que homem sem barriga não é homem. Falaram até que ele não jogaria mais no time se não desistisse da idéia. Ele não ligou.

A sua mulher, pelo contrário, tinha adorado. Reclamava tanto da barriga dele, que tinha chegado ao ponto de proibir o Luís Paulo de ir pra praia sem camisa. Vê se pode. Como ele achava aquele negócio de passar protetor a coisa mais chata do mundo, no fim do dia parecia um argentino. É, pois argentino que se preze não consegue ir pra praia sem ficar com marca de regata.

Reclamava também que ele não era mais o mesmo, se referindo ao sexo. O Luís Paulo fingia que não ouvia, até o dia que não conseguiu amarrar o tênis. Não por causa da barriga, afinal eram só três quilinhos. Não conseguiu amarrar o tênis pois ficou paralisado quando viu um desenho que sua filha de 4 anos tinha feito. Era ele próprio chutando uma bola de futebol. Até aí, nada de errado. O problema foi quando ele leu a legenda: papai é o que tá chutando.