Hidro-avião
Você alguma vez já participou de uma partida de batalha-naval? Aquela em que você tem que adivinhar onde se situam os navios do oponente através de coordenadas? B6, A7, G4 e tal, certo? Ok, se você jogou ou joga muito esse jogo, deve conhecer bem os navios: submarino, couraçado, cruzador, destroyer e , entre outros, o hidro-avião, tópico desse texto. O hidro-avião é o único que se diferencia dos demais. Geralmente é o mais dificil de achar porque sua forma não é reta. Ele é assim: um ponta na frente e as outras duas pontas na diagonal, como um trângulo.
Bom, só que nesse texto aqui não vou falar sobre esse tipo de navio, muito menos sobre este famigerado joguinho. Venho falar sobre outro tipo de hidro-avião: pessoas engravatadas, com um crachá da empresa no peito, conhecidas como “firmas”, que costumam andar pela região da Vila Olímpia, Paulista e demais centros comerciais. Mais especificamente no horário do almoço.
Se você for assim, desculpe, mas é assim que eu te chamo.
Para ser mais claro, um hidro-avião é um grupo de pessoas que fecha a rua enquanto você se desespera querendo ultrapassar. Repare nesse tipo de gente andando na rua que você entende o porquê deste apelido. Bem simples. Além deles atrapalharem você, como na batalha naval, eles ainda tem o mesmo formato: 1 na ponta e dois nas verticais que podem ser variados, formando sempre o efeito pirâmide.
Para reconhecê-los é super fácil. A calçada precisa ser mínima para a falta de bom senso dos “firmas” ser máxima. Daí num espaço onde podem passar, vai, 2 pessoas, eles se amontoam numa base piramidal com um líder comunicativo na ponta. Todo “firma” tem sempre um líder comunicativo. Na maioria das vezes de bigodinho, é o cara que faz piadinha com quem entra no elevador, é o cara dos emails engraçadinhos. Ele sempre puxa o hidro-avião.
Como a calçada é pequena, ele anda na frente e quer contar algum causo para seus amigos “firmas risonhos”. Os “risonhos” veneram seu líder, sempre rindo de tudo. São sempre os Saldanhas, Almeidinhas e Serjões da empresa. Daí o líder quer falar algo para os risonhos ( a maioria das vezes o assunto é IPVA), e estes não conseguem ficar ao lado dele, devido ao tamanho da calçada. Com isso, o líder fala olhando para trás e sua velocidade diminui drasticamente. Pronto, formou-se a base dos risonhos com o líder na frente tentando falar. Aí está um hidro-avião e lá se vai a calçada.
Nisso, surge você, sempre apressado e buscando dinamismo na caminhada. O que fazer? O ideal é apertar o passo para ver se o hidro-avião desfaz aos poucos. Não adianta. Ninguém sai do lugar e a velocidade deles continua cada vez menor. Daí você tem que sair, ir até a calçada, talvez morrer atropelado por um motoboy para depois voltar e ultrapassar o grupinho. Isso quando você não tenta fazer a manobra e se depara com uma árvore. Galhos e mais galhos na cara.
Não que eu seja um tremendo de um apressado. Eu só acho que tenho o meu direito de poder andar na rua sem ninguém me atrapalhando. Os cachorros conseguem isso, eu não.Esses “hidro-aviões” não se mancam nunca. Sempre a 2 km/h, sempre esperando o sinal ficar vermelho para atravessar. Eles deveria ser banidos da sociedade. Não sabem andar na rua.
São Paulo é mesmo um lugar impossível para se locomover: se não bastasse trânsito de carro, agora também tem os de gente.